Ainda hoje me lembro do impacto que esse capítulo teve
sobre a minha vida. Até essa leitura nunca havia pensado sobre a imutabilidade
de Deus. Ninguém nunca havia pregado sobre esse assunto na minha igreja local.
Toda vez que alguém pregava e falava sobre isso, falava que Deus mudava de
planos e dava como exemplo o dilúvio de Noé, ou o caso do rei Ezequias, ou o
profeta Jonas e a cidade de Nínive. Portanto, a argumentação era que Deus
mudava Seus planos dependendo das reações das pessoas. Qual não foi o impacto
na minha vida quando Pink argumentou a favor do fato de que Deus não muda!
Ao contrário de qualquer outro deus, o Deus das Sagradas
Escrituras é o mesmo “ontem, hoje e eternamente” (Hebreus 13:8). Isto significa
que, independente do que ocorra no mundo, Deus permanecerá sempre o mesmo.
Sendo Ele o princípio e o fim, Ele não pode experimentar nenhum tipo de
mudança. Ele não pode mudar para melhor, porque já é perfeito e, sendo perfeito
não pode mudar para pior. Ele é o único Deus capaz de dizer “...eu sou o que
sou...” (Êxodo 3:14). A Sua essência, o Seu caráter é imutável.
Mas então por que lemos trechos da Bíblia Sagrada que
parecem dizer o contrário? Dois textos muito famosos são:
“Então,
arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu
coração.” (Gênesis 6:6)
e
“Então,
o SENHOR arrependeu-se do mal que dissera que havia de fazer ao seu povo.” (Êxodo 32:14).
Por outro lado, lemos textos que afirmam categoricamente
que Deus não se arrepende de nada que tenha feito ou planejado, por exemplo,
“Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa
(Números 23:19) e “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Romanos
11:29). Então, como conciliar esses trechos bíblicos? Em primeiro lugar deve
ficar claro que a Bíblia não tem contradições. O que ela ensina no início,
ensina no meio e no fim. A Palavra de Deus traz consigo as características de
Seu autor: perfeição, integridade, autoridade e justiça.
Eis o que disse o Dr Packer: “A referência em cada caso é
sobre a anulação de um prévio tratamento dispensado a certos homens, como
consequência da reação deles a esse tratamento. Mas não há sugestão de que essa
reação não tenha sido prevista, ou que Deus tenha sido tomado de surpresa, e
que não estivesse estabelecida em seu plano eterno. Não há mudança alguma em
seu propósito eterno quando Ele começa a agir em relação a um homem de maneira
diferente.” E é preciso entender que o arrependimento de Deus é completamente
diferente do nosso.
Quando Deus Se arrepende, Ele não foi motivado por algum
erro cometido. O arrependimento do homem é causado pelo reconhecimento de uma
atitude precipitada, como resultado da ignorância do que havia de acontecer.
Nós nos arrependemos porque erramos. No caso de Deus é extremamente diferente.
Ele jamais comete erros. Em Deus "não pode existir variação, ou sombra de
mudança" (Tiago 1:17). Portanto, o arrependimento
de Deus deve ser entendido de outra maneira.
Quando a Bíblia fala de Deus se arrependendo e mudando sua
intenção para com o homem, “evidentemente é só a maneira humana de falar. Na
realidade a mudança não é em Deus, mas no homem e nas relações do homem com
Ele” (L. Berkhof).
Precisamos entender que até as mudanças nas nossas atitudes fazem parte do
plano de Deus. Quando Deus assume arrepender-Se, Ele está assumindo a
responsabilidade por essa atitude e pela situação ter chegado onde chegou. Ao
criar o homem, Deus viu que “era muito bom” e depois, na época de Noé, Ele
reconheceria que teria sido um erro cria-lo? Ora, se Deus tivesse errado na
criação do homem Ele seria como o próprio homem, capaz de errar. Mas não
podemos aceitar que Deus erre à luz do que lemos nas Escrituras.
Da mesma forma, com uma linguagem antropomórfica, Deus Se
apresenta como tendo olhos, mãos, braços e ouvidos. Ele fala de Si como tendo
despertado (Salmo 78:65) e como tendo madrugado (Jeremias 7:13). Mas o próprio
salmista diz que o guarda de Israel não dorme (Salmo 121:3).Deus nos ama tanto
que Ele mesmo opta por Se manifestar de uma forma humana para que possamos
entender o que Ele mesmo sente. No caso da destruição da raça humana, a
indignação divina era tão grande contra o pecado, que para entender o por quê
da raça humana ser destruída, Deus Se manifesta como arrependido de ter criado
a humanidade.
Em Malaquias 3:6 lemos a famosa declaração de Deus,
“Porque eu, o SENHOR, não mudo”. E é uma benção a imutabilidade de Deus.
Imagine se Deus mudasse de opinião como nós mudamos! Hoje Ele está resolvido em
nos amar e usar de graça conosco. Mas amanhã, se pecarmos, Ele resolve mudar de
postura e nos tratar de acordo com nosso pecado. Hoje somos abençoados por Ele
e amanhã Ele fica de birra e não nos abençoa. A imutabilidade de Deus é uma
benção para a Igreja, pois podemos confiar plenamente em Deus, visto que Ele
não vai largar a corda e nos abandonar.
É por causa da imutabilidade de Deus que Ele nos ama
desde toda a eternidade (Jeremias 31:3) e nunca Se moveu dessa determinação. É
porque Deus não muda que não somos consumidos por Sua santa ira (Malaquias 3:6).
Ele não vai voltar atrás na determinação de nos salvar e nos conduzir ao céu
(Judas 24). Que consolo e segurança podemos desfrutar da imutabilidade de Deus.
Ele não vai mudar no Seu desejo de me salvar, de me preservar santo, de me
abençoar. Ele não vai voltar atrás na determinação de me provar e dar sustento
nas minhas horas mais difíceis (1 Coríntios 10:13).