A campeã
do carnaval em São Paulo em 2013 é a Mocidade Alegre. Isso não me interessa
nenhum pouco. Poderia ser qualquer escola que ganhasse o título, meu interesse
pelo carnaval é quase nulo. Mas vendo as reportagens na televisão sobre o
desfile, um fato me chamou a atenção: o tema apresentado pela escola campeã – A
Sedução Me Fez Provar, Me Entregar à Tentação...
O homem
sempre foi fascinado pelo desconhecido e pelo proibido. Se você quiser tornar
alguma coisa irresistível, faça com que as pessoas percebam a proibição do
fato. Além disso, outro mecanismo de persuasão é o poder. Diga a alguém que se
algo proibido for feito a pessoa se tornará poderosa e pronto, estes são os
ingredientes da tentação e da queda. Foi assim no Éden, foi assim no deserto
com Jesus, foi assim com Judas Iscariotes, é assim conosco todos os dias da
nossa vida.
Aceite, sem medo, o convite
da Mocidade Alegre... Deixe-se seduzir pela possibilidade de assumir o papel de
criador... Prove do fruto proibido e seja você também capaz de dar novos
desfechos às verdades, histórias e conceitos que nos foram apresentados desde
sempre... Sinta o fascínio de poder reinventar o mundo!
Deixe-se seduzir pela
inebriante sensação de mudar os rumos dos fatos... Entregue-se à essa
tentação!!!
“Assumir o papel de criador”... O que foi mesmo
que o diabo disse a Eva no Jardim do Éden? “Vocês se tornarão como Deus,
conhecedores do bem e do mal.”. Que proposta realmente tentadora! Quem não
gostaria de controlar o bem e o mal e dispor deles ao seu bel prazer?! Quem não
gostaria de exercer o bem para os necessitados e desancar o mal em cima dos
desafetos?! A Bíblia afirma que só Deus conhece o bem e o mal, inclusive que
Ele assume a responsabilidade da coexistência dessas duas forças, “Eu formo a luz e crio as trevas; eu faço a
paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas essas coisas.” (Isaías 45:7).
Quem não cederia a tamanho grau de poder na raça humana?! Até o diabo, criado
com toda grandeza quis um pouco mais e caiu (Ezequiel 28:15).
“...mudar os rumos dos fatos...” Ah, que maravilha
seria mudar as coisas pelas quais somos responsáveis!!! E, depois disso, dar o
fim que desejávamos anteriormente. Tirar dos nossos ombros a nossa própria responsabilidade.
Não sermos culpados de nada. Transferirmos as nossas culpas para outra pessoa.
Podermos ter a capacidade de fazer o que quisermos e não pagar pelos erros das
nossas escolhas. O velho ditado diz que “errar é humano, divino é perdoar”. No
fundo, não queremos a possibilidade do perdão, o homem quer mesmo é errar e não
ser responsabilizado.
Desde sempre aprendemos que,
ao ceder à tentação do pecado, conheceremos as trevas... Mas hoje a Mocidade
Alegre refaz o final e mostra que, pecando, alcançaremos a redenção,
Na vaidade, nos tornaremos
mais bonitos e atraentes... Graças à luxúria, poderemos compartilhar o
prazer... A inveja nos fará despertar para procurarmos nossos talentos... É com
a ira que mostraremos nossa força e ganharemos respeito como guerreiros... Não
fosse a preguiça, como poderíamos amar o aconchego de nossos lares?... A avareza
nos trará economia e riqueza... Bem aventurados os gulosos, pois saberão sentir
os sabores do mundo!
Deleite-se... Sinta-se à
vontade para sucumbir ao pecado sem culpa e assim, no nosso final, você
conquistará os céus!!!
Esse trecho da sinopse do samba enredo da escola
campeã é a síntese do que pensa o homem sem Deus. “...hoje a Mocidade Alegre refaz o final e
mostra que, pecando, alcançaremos a redenção”. Isso me lembra um poema de Gregório de Matos, maior poeta
do barroco brasileiro, apelidado de Boca
do Inferno. Eis um trecho desse poema (A Jesus Cristo Nosso Senhor),
Pequei, Senhor; mas
não porque hei pecado,
Da vossa alta
clemência me despido;
Porque quanto mais
tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar
mais empenhado.
É nítida a vontade de
ele continuar pecando, porque quanto mais ele pecar, mais empenhado estará o
Senhor em perdoar. O homem é dado ao pecado, o Senhor é dado em perdoar. O
apóstolo Paulo tratou desse abuso da graça de Deus em Romanos 6:1, “Que diremos, pois? Permaneceremos no
pecado, para que a graça seja mais abundante?” É assim o tema do samba
campeão: mais pecado, mais redenção. A beleza é fruto da vaidade; o prazer é
fruto da luxúria; a inveja suscitou os talentos das pessoas; é por causa da ira
que mostramos nossa força. O aconchego dos nossos lares é desencadeado pela
preguiça; o fato de sermos avarentos (idolatria à luz da Bíblia) é responsável
economia e pelas riquezas e a gula é responsável pelos prazeres da vida. Nada
há que se sustente à luz da Palavra de Deus.
A Bíblia não nomina os
chamados “pecados capitais” – referência feita pelo samba enredo – que seriam
os pecados basilares de todos os outros. De qualquer modo, todo e qualquer
pecado é derivado de um só, esse sim mostrado no relato bíblico: a vontade de
se tornar independente do Criador. Os criadores do samba inverteram a ordem
natural da criação (para usar uma expressão do apóstolo Paulo – Romanos 1:26) e
tornaram em benefício aquilo que a Bíblia condena enfaticamente.
A prática do pecado é
mostrada como sem nenhuma consequência nessa frase, “Sinta-se à vontade para
sucumbir ao pecado sem culpa e assim, no nosso final, você conquistará os céus!!!”
Os céus são dados como prêmio a quem peca desenfreadamente. Quanta distância do
que nos apresenta a Palavra de Deus. “Porque
o salário do pecado é a morte.” (Romanos 6:23); “A alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18:4, 20). O céu não é
conquistado na presença do pecado. O sacrifício de Jesus Cristo pela Sua Igreja
é “para a apresentar a si mesmo igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível.” Efésios 5:27. Portanto, importa sim o quanto pecamos nesta
vida, pois se pecamos damos prova que não somos filhos de Deus, “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que
andeis como é digno da vocação com que fostes chamados.” (Efésios 4:1).
Em algum momento da nossa vã existência, todos nós imaginamos – ao
menos por um dia – poder realizar feitos impossíveis – ou serão possíveis?
Seja na ciência, seja na arte, vem a irresistível tentação de
refazer as regras da vida e o compasso da existência, dando vazão às loucuras
que passam a ser nossa razão... Fascinante é a sensação de poder dar novos
horizontes aos limites humanos... E assim será!
No desafio à lógica e às leis naturais, será possível ao homem voar
na imensidão, descobrir o elixir da eterna juventude e até mesmo viajar para
outra dimensão,
Desafie os limites. Ouse reinventar a criação. Brinque de Criador!
Novamente surge a ideia
de fazermos o que está além do nosso alcance – “poder realizar feitos
impossíveis”. Isso me lembra uma declaração muito interessante de Jesus
Cristo. Ele está explicando sobre a salvação do homem e os discípulos chegam a
uma pergunta importantíssima, “...Quem
poderá, pois, salvar-se?” (Mateus 19:25). Depois de ouvirem da dificuldade
do homem se salvar, os discípulos se voltam para Jesus incapazes de entender a
conclusão óbvia da explicação do Mestre – o homem não é capaz de se salvar. E
Jesus responde, “Aos homens é isso
impossível, mas a Deus tudo é possível.” (Mateus 19:26). Imagine se o homem
pudesse chegar diante de Deus e apresentar as razões de sua salvação –
dedicação, esforço pessoal, cumprimento das leis de Deus, atos de bondade e
benevolência. Para que então Jesus teria morrido? Se qualquer um pudesse se
salvar, para que serviria o sofrimento de Jesus Cristo? Infelizmente, para
alguns pastores, o universalismo não encontra respaldo bíblico.
Essa é a proposta do
diabo desde o princípio – “Brinque de Criador!” É uma brincadeira mesmo.
O que o diabo faz é brincar com o ser humano, pois cria um mundo de fantasias
que não podem ser reais. O ser humano nunca poderá ser o criador do seu futuro,
no mesmo sentido que Deus é. Logicamente que as escolhas que eu faço criam
certas condições para minha existência. Mas eu não crio minha redenção; eu não
crio minha salvação. O samba enredo conclama as pessoas a darem “vazão às loucuras que passam a ser
nossa razão.” E não é
isso que as pessoas querem? Que as loucuras se tornem aceitáveis! Mas de novo,
esse samba enredo se choca com a Palavra de Deus. “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias;
e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. (1
Coríntios 1:27). Existe uma “loucura” nas coisas de Deus que não nos cabe
tentar entender, uma vez que não temos a capacidade para entendê-las. Mas é
preferível a “loucura” de Deus à nossa razão corrompida pelo pecado.
Dos tantos devaneios
possíveis pelo direito de refazer os finais, talvez o mais enigmático e
encantador seja a chance de avançar no tempo e conhecer o amanhã...
Se você algum dia sonhou com
um mundo de paz, amor, prosperidade e união, a Mocidade Alegre – pela força da
magia do próprio carnaval – reescreverá o futuro, pois um sambista jamais perde
a esperança, e tem na união sua força maior. O amanhã será melhor, porque somos
nós sambistas – portadores de tantos sonhos e ilusões – que o estamos
construindo, com a força dos nossos pavilhões... Juntos, unidos, reunidos.
Não podemos mudar e melhorar
o nosso futuro se continuarmos acreditando, todo dia, nas mesmas coisas.
Portanto, liberte-se... Reinvente-se... Se entregue você também à tentação de
refazer o final... Aceite o convite da Mocidade Alegre a recriar o seu
destino...
...E o “Final Feliz”, só
depende de você!!!
Esse
samba mostra um erro moderno que os cristãos estão começando a cometê-lo;
acreditar em coisas novas, desqualificando as antigas. A Palavra de Deus é uma
pessoa, o Senhor Jesus Cristo. E “Jesus
Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente.” (Hebreus 13:8). Portanto a
Palavra de Deus não muda, o que Jesus Cristo ensinou no passado continua válido
hoje. Isso não significa que Deus não possa nos revelar coisas que nos estavam –
e estão – ocultas. Contudo, Ele nunca fará isso fora da Sua palavra. É pela
Palavra de Deus que sabemos o que Ele requer de cada um de nós.
Outra ideia do samba enredo – que reforça a ideia de
independência – é que o “final feliz” só depende de nós. Mais uma vez a soberba
volta a ser o tema da sinopse apresentada pela própria escola de samba. Não
depende só de nós a nossa vida. Minha vida depende também da minha esposa,
minha família, meus irmãos em Cristo, meus amigos, meu trabalho, da minha
relação comigo mesmo. Minha vida depende de aspectos biológicos do meu corpo,
das minhas emoções. Se quisermos depender apenas de nós mesmos, temos de nos
lembrar que “Enganoso é o coração, mais
do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9). E o
mesmo profeta nos adverte sobre em quem colocamos a nossa confiança, “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que
confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!”
(Jeremias 17:5).
Mas alguém poderá dizer que o carnaval é uma expressão da
cultura popular e que a Bíblia não tem nada a ver com a cultura de um povo; que
a cultura pode mudar de um povo para outro e que, necessariamente, a cultura
não interfere na vida espiritual das pessoas. Será mesmo que os povos que
cultuam os elementos da natureza não estão errados? Será que as culturas
africanas não têm nada de errado quando colocam elementos da natureza como
deuses? Será que as culturas orientais não são contrárias à Palavra de Deus? A
propósito, as palavras cultura e cultuar
têm a mesma raiz.