quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Três afirmações de que Deus e evolução não podem estar juntos

 

            Foi com vontade de conhecer como o mundo físico funciona e
como Deus criou todas as coisas, especialmente os animais, é que eu ingressei
na faculdade. Quando fiz minha matrícula, sentado no “bosque” que o Mackenzie
tem, fiz uma oração para que Deus me ajudasse a entender o que iria estudar.
Orei porque sempre acreditei que Ele poderia me abençoar. Muito mais do que me
proporcionar condições naturais para eu aprender, sempre confiei na Sua
intervenção sobrenatural na minha vida e no cotidiano daqueles dias na faculdade.



            E sempre
fui questionado sobre o fato de eu ser cristão e biólogo ao mesmo tempo, se
isso era compatível, se eu conseguia conciliar essas duas realidades que fazem parte
de mim. Quando entrei na faculdade minha igreja orou para que Deus me
abençoasse e me preservasse de qualquer influência que pudesse me afastar da
Sua Palavra e do que ela ensina. Então, estudar o processo evolutivo foi um
desafio para mim, para entender os seus meandros, as suas proposições e se, porventura,
haveria alguma compatibilidade entre o que sempre aprendi na igreja com a
proposição de Darwin.



            A conclusão
a que cheguei – que tem se ratificado anos após ano – é que a evolução proposta
por Darwin e, posteriormente, revisada por Dobzhansky, Haldane, Mayr, entre
outros, não se coaduna com a existência do Deus revelado nas Escrituras. O
processo evolutivo ensinado nas universidades não pressupõe a existência do
Deus da tradição judaico-cristão e nem com qualquer outro tipo de entidade
divina. A evolução precisa ser reinterpretada e redefinida para que Deus seja
colocado como coexistente com ela. O problema, mortal a meu ver, é a
descaracterização da evolução ou a transfiguração de Deus numa personagem que
Ele não é.



 



1.   
Deus não é um demiurgo que só criou as
condições necessárias e Se afastou do processo criativo



O Deus que Se revela nas
Escrituras é o mesmo Deus que criou todas as coisas visíveis e que podem ser
estudadas dentro da metodologia científica. Ele mesmo não pode ser estudado
pela ciência, porque não pode ser limitado a equações e tubos de ensaio, mas o
que nos é visível e captado pelos sentidos pode e deve ser estudado. Como a
criação mostra que Deus existe (Sl 19.1-6), “seu eterno poder, como sua divindade”
são claramente – ou deveriam – vistos “pelas coisas que foram criadas” (Rm 1.20).



Nesse sentido, Haarsma erra ao
dizer que



“Deus
projetou as leis da natureza para que a evolução biológica pudesse, por meio de
sua operação normal e ordinária, trazer novas formas de vida e aumentar a
complexidade.”
[1]



      E
o erro dele é apresentar uma versão de demiurgo e não no Deus escriturístico. E
qual é o erro dele? Dizer que Deus Se utilizou da “evolução biológica [para]
trazer novas formas de vida e aumentar a complexidade”, pois não é isso que o
texto sagrado diz. O texto diz que Deus falou e tudo se fez. Por
acaso a leitura que fazemos hoje do texto dá margem para pensarmos em processos
evolutivos, lentos e graduais? Ou lemos dessa forma depois do advento da
ciência e sua metodologia? O que os leitores originais entenderão quando
pegaram esse texto produzido por Moisés?



Que leitura fazemos do texto de
Gênesis? A partir dos pressupostos científicos de que as coisas podem ser
explicadas de modo natural, sem a intervenção divina? Mas pensar dessa forma
suscita ainda uma outra pergunta mais desconcertante, precisamos dos dados
científicos para fazermos a leitura da Bíblia? Haarsma parece ter dupla
personalidade quando afirma eu seu texto que “como cristão” pensa de uma forma,
mas “como cientista” pensa de forma diferente.



Mas Haarsma comete outro erro na
sua afirmação. Quando ele diz acreditar que Deus “não precisou fazer isso
[causar uma série de mutações] para criar a rica diversidade de vida complexa
que vemos no mundo hoje”, ele afirma isso baseado em quê? Em dados científicos?
Se for, como é que ele colocou Deus no laboratório para saber se Ele causou ou
não as mutações? Nem ele, nem Dawkins, nem ninguém pode afirmar que “como
cientista, Deus...”, porque simplesmente Deus não é objeto de estudo da
ciência, nem para negar a Sua existência, nem para ratificá-la.



 



2.   
Deus está ausente do processo evolutivo



Qual é a proposta evolutiva mais
correta? Se essa pergunta for feita para um grupo de biólogos, por exemplo, imaginativamente,
para os biólogos que eu citei acima, eles responderiam que não existe a proposta
evolutiva mais correta, porque justamente só existe uma proposta
evolutiva. A academia não discute as teses evolutivas de Alister McGrath em A
ciência de Deus
[2]
ou em Deus e Darwin[3].
Quem é evolucionista não usa a tese de Francis Collins de que o DNA é a linguagem
que Deus usou para criar a vida.[4]



E por que eles fazem isso? Simplesmente
porque a tese que McGrath, Collins e os evolucionistas teístas apresentam não é
evolução. Pode ser algo muito parecido com evolução, mas não é o que é
apresentado nos livros sobre a proposta evolutiva. Se McGrath, Collins e
Haarsma são a favor da evolução, eles consideram que “a seleção natural não
pode equipar uma espécie para encarar novas contingências futuras e não tem
propósito ou direção”.[5] Além
disso, como darwinistas que são, eles também hão de concordar que



“não
existe razão necessária para se esperar uma direção consistente na evolução de
qualquer linhagem, muito menos uma direção que todos os seres vivos devam
seguir. Além do mais, sendo a seleção natural tão mecânica quanto a gravidade,
ela não é moral nem amoral”
.[6]



 



3.   
Deus controla tudo o que acontece na Sua
criação



Há quem diga que a visão que
temos de Deus como sendo perfeito é errada. Para esses teólogos, Deus não é
perfeito, não controla todas as coisas que ocorrem no mundo e, muito embora Ele
possa conhecer a quantidade de fios de cabelo que eu tenho (que é algo
irrelevante para mim e para Ele), Ele não tem nada a ver com uma avião que cai.



Será que Deus está por trás de
todos os eventos que ocorrem no mundo? Como cristão, afirmo que sim. A Bíblia
me dá inúmeros exemplos de que Deus comanda a Sua criação de acordo com Sua
vontade, mesmo que eu não a entenda como Ele a executa. Esses exemplos vão
desde a intencionalidade divina em criar o mundo até a formação de uma terra e
novos céus. Como cientista eu consigo afirmar isso? Será que como cientista eu
consigo ver sinais de intencionalidade e inteligência no mundo natural? Consigo!



Quando vejo o funcionamento do
sistema imunológico, quando vejo os mecanismos de autorreparação do DNA, quando
estudo as propriedades físico-químicas da água ou quando vejo o passarinho
montar seu ninho na árvore em frente à minha janela, vejo sinais de
inteligência, de design, de complexidade na natureza. Mas é por que sou
cientista que digo que o autor desse design é o Deus das Escrituras?
Não, porque a inteligência demonstrada no universo não me aponta para o Deus
triúno.



Acredito que seja Ele o criador
de tudo o que eu estudo porque Ele me deu fé para crer nEle, porque Ele mudou
meu coração e minha maneira de enxergar o mundo. Primariamente e, acima de
tudo, olho para o mundo com a Bíblia aberta e glorificando a Deus pelas coisas
que vejo na natureza. E, depois de usar o método científico, aprendo como a
natureza funciona, e continuo glorificando a Deus, porque entre Deus e a
ciência, mesmo não entendo completamente os dois, eu fico com Deus.















[2]
Alister McGrath, A ciência de Deus, Editora Ultimato, Viçosa, MG, 2016.







[3]
Alister McGrath, Deus e Darwin, Editora Ultimato, Viçosa, MG, 2016.







[4]
Francis S. Collins, A linguagem de Deus, Editora Gente, São Paulo, SP,
2007.







[5]
Douglas Futuyama, Biologia Evolutiva, FUNPEC Editora, Ribeirão Preto, SP,
2002, p. 7).







[6]
Idem, p. 8.





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