quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Três afirmações de que Deus e evolução não podem estar juntos

 

            Foi com vontade de conhecer como o mundo físico funciona e
como Deus criou todas as coisas, especialmente os animais, é que eu ingressei
na faculdade. Quando fiz minha matrícula, sentado no “bosque” que o Mackenzie
tem, fiz uma oração para que Deus me ajudasse a entender o que iria estudar.
Orei porque sempre acreditei que Ele poderia me abençoar. Muito mais do que me
proporcionar condições naturais para eu aprender, sempre confiei na Sua
intervenção sobrenatural na minha vida e no cotidiano daqueles dias na faculdade.



            E sempre
fui questionado sobre o fato de eu ser cristão e biólogo ao mesmo tempo, se
isso era compatível, se eu conseguia conciliar essas duas realidades que fazem parte
de mim. Quando entrei na faculdade minha igreja orou para que Deus me
abençoasse e me preservasse de qualquer influência que pudesse me afastar da
Sua Palavra e do que ela ensina. Então, estudar o processo evolutivo foi um
desafio para mim, para entender os seus meandros, as suas proposições e se, porventura,
haveria alguma compatibilidade entre o que sempre aprendi na igreja com a
proposição de Darwin.



            A conclusão
a que cheguei – que tem se ratificado anos após ano – é que a evolução proposta
por Darwin e, posteriormente, revisada por Dobzhansky, Haldane, Mayr, entre
outros, não se coaduna com a existência do Deus revelado nas Escrituras. O
processo evolutivo ensinado nas universidades não pressupõe a existência do
Deus da tradição judaico-cristão e nem com qualquer outro tipo de entidade
divina. A evolução precisa ser reinterpretada e redefinida para que Deus seja
colocado como coexistente com ela. O problema, mortal a meu ver, é a
descaracterização da evolução ou a transfiguração de Deus numa personagem que
Ele não é.



 



1.   
Deus não é um demiurgo que só criou as
condições necessárias e Se afastou do processo criativo



O Deus que Se revela nas
Escrituras é o mesmo Deus que criou todas as coisas visíveis e que podem ser
estudadas dentro da metodologia científica. Ele mesmo não pode ser estudado
pela ciência, porque não pode ser limitado a equações e tubos de ensaio, mas o
que nos é visível e captado pelos sentidos pode e deve ser estudado. Como a
criação mostra que Deus existe (Sl 19.1-6), “seu eterno poder, como sua divindade”
são claramente – ou deveriam – vistos “pelas coisas que foram criadas” (Rm 1.20).



Nesse sentido, Haarsma erra ao
dizer que



“Deus
projetou as leis da natureza para que a evolução biológica pudesse, por meio de
sua operação normal e ordinária, trazer novas formas de vida e aumentar a
complexidade.”
[1]



      E
o erro dele é apresentar uma versão de demiurgo e não no Deus escriturístico. E
qual é o erro dele? Dizer que Deus Se utilizou da “evolução biológica [para]
trazer novas formas de vida e aumentar a complexidade”, pois não é isso que o
texto sagrado diz. O texto diz que Deus falou e tudo se fez. Por
acaso a leitura que fazemos hoje do texto dá margem para pensarmos em processos
evolutivos, lentos e graduais? Ou lemos dessa forma depois do advento da
ciência e sua metodologia? O que os leitores originais entenderão quando
pegaram esse texto produzido por Moisés?



Que leitura fazemos do texto de
Gênesis? A partir dos pressupostos científicos de que as coisas podem ser
explicadas de modo natural, sem a intervenção divina? Mas pensar dessa forma
suscita ainda uma outra pergunta mais desconcertante, precisamos dos dados
científicos para fazermos a leitura da Bíblia? Haarsma parece ter dupla
personalidade quando afirma eu seu texto que “como cristão” pensa de uma forma,
mas “como cientista” pensa de forma diferente.



Mas Haarsma comete outro erro na
sua afirmação. Quando ele diz acreditar que Deus “não precisou fazer isso
[causar uma série de mutações] para criar a rica diversidade de vida complexa
que vemos no mundo hoje”, ele afirma isso baseado em quê? Em dados científicos?
Se for, como é que ele colocou Deus no laboratório para saber se Ele causou ou
não as mutações? Nem ele, nem Dawkins, nem ninguém pode afirmar que “como
cientista, Deus...”, porque simplesmente Deus não é objeto de estudo da
ciência, nem para negar a Sua existência, nem para ratificá-la.



 



2.   
Deus está ausente do processo evolutivo



Qual é a proposta evolutiva mais
correta? Se essa pergunta for feita para um grupo de biólogos, por exemplo, imaginativamente,
para os biólogos que eu citei acima, eles responderiam que não existe a proposta
evolutiva mais correta, porque justamente só existe uma proposta
evolutiva. A academia não discute as teses evolutivas de Alister McGrath em A
ciência de Deus
[2]
ou em Deus e Darwin[3].
Quem é evolucionista não usa a tese de Francis Collins de que o DNA é a linguagem
que Deus usou para criar a vida.[4]



E por que eles fazem isso? Simplesmente
porque a tese que McGrath, Collins e os evolucionistas teístas apresentam não é
evolução. Pode ser algo muito parecido com evolução, mas não é o que é
apresentado nos livros sobre a proposta evolutiva. Se McGrath, Collins e
Haarsma são a favor da evolução, eles consideram que “a seleção natural não
pode equipar uma espécie para encarar novas contingências futuras e não tem
propósito ou direção”.[5] Além
disso, como darwinistas que são, eles também hão de concordar que



“não
existe razão necessária para se esperar uma direção consistente na evolução de
qualquer linhagem, muito menos uma direção que todos os seres vivos devam
seguir. Além do mais, sendo a seleção natural tão mecânica quanto a gravidade,
ela não é moral nem amoral”
.[6]



 



3.   
Deus controla tudo o que acontece na Sua
criação



Há quem diga que a visão que
temos de Deus como sendo perfeito é errada. Para esses teólogos, Deus não é
perfeito, não controla todas as coisas que ocorrem no mundo e, muito embora Ele
possa conhecer a quantidade de fios de cabelo que eu tenho (que é algo
irrelevante para mim e para Ele), Ele não tem nada a ver com uma avião que cai.



Será que Deus está por trás de
todos os eventos que ocorrem no mundo? Como cristão, afirmo que sim. A Bíblia
me dá inúmeros exemplos de que Deus comanda a Sua criação de acordo com Sua
vontade, mesmo que eu não a entenda como Ele a executa. Esses exemplos vão
desde a intencionalidade divina em criar o mundo até a formação de uma terra e
novos céus. Como cientista eu consigo afirmar isso? Será que como cientista eu
consigo ver sinais de intencionalidade e inteligência no mundo natural? Consigo!



Quando vejo o funcionamento do
sistema imunológico, quando vejo os mecanismos de autorreparação do DNA, quando
estudo as propriedades físico-químicas da água ou quando vejo o passarinho
montar seu ninho na árvore em frente à minha janela, vejo sinais de
inteligência, de design, de complexidade na natureza. Mas é por que sou
cientista que digo que o autor desse design é o Deus das Escrituras?
Não, porque a inteligência demonstrada no universo não me aponta para o Deus
triúno.



Acredito que seja Ele o criador
de tudo o que eu estudo porque Ele me deu fé para crer nEle, porque Ele mudou
meu coração e minha maneira de enxergar o mundo. Primariamente e, acima de
tudo, olho para o mundo com a Bíblia aberta e glorificando a Deus pelas coisas
que vejo na natureza. E, depois de usar o método científico, aprendo como a
natureza funciona, e continuo glorificando a Deus, porque entre Deus e a
ciência, mesmo não entendo completamente os dois, eu fico com Deus.















[2]
Alister McGrath, A ciência de Deus, Editora Ultimato, Viçosa, MG, 2016.







[3]
Alister McGrath, Deus e Darwin, Editora Ultimato, Viçosa, MG, 2016.







[4]
Francis S. Collins, A linguagem de Deus, Editora Gente, São Paulo, SP,
2007.







[5]
Douglas Futuyama, Biologia Evolutiva, FUNPEC Editora, Ribeirão Preto, SP,
2002, p. 7).







[6]
Idem, p. 8.





segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Sou calvinista, mas não morro de amor pelo calvinismo


Eu não acredito que o cristianismo possa ser medido em estágios de “desenvolvimento intelectual” em que o sistema teológico que eu tenho é mais elevado que outro sistema. Nesse sentido, o calvinismo é um sistema teológico que julgo ser o correto, enquanto o arminianismo, penso eu, está errado.

Um dos pastores que mais admiro, Charles Spurgeon (1834-1892), dizia que arminianos eram hereges. Já pensei dessa forma. Hoje eu não penso dessa forma, mas tenho restrições quanto aos arminianos. Mas também tenho receio de certos calvinistas. Dos arminianos que conheço, para e escuto apenas dois deles. Para mim, quem “encarna” a Jesus Cristo é a Sua Igreja e não sistemas teológicos.

Os demônios não são – e nunca serão – calvinistas. Do mesmo jeito que os arminianos não são demônios. Se os demônios fossem calvinistas eles creriam em Jesus como salvador, mas eles não receberam fé para isso. Eu só amo a Deus porque Ele me amou primeiro. Demônios não amam porque Deus não os ama. Humanos funcionam da mesma forma. 

O reino de Deus não é uma democracia. Se o universo tem um Rei – e tem – e eu faço parte desse reino, eu tenho que me submeter a este Rei. Este Rei é absolutamente soberano no seu reinado e eu sou responsável por viver de acordo com as leis estabelecidas por este Rei. Quem me ensinou isso? O calvinismo! Para mim esse é o sistema teológico que melhor interpreta o que a Bíblia ensina.
Na imagem, Spurgeon por volta dos seus 20 anos pregando na New Park Street Chapel.

Eu já cometi os grandes pecados que os calvinistas mais pecam. Mas aprendi que para todos os meus pecados há perdão em Jesus Cristo. Acredito firmemente que se as pessoas conhecessem o calvinismo, elas se tornariam melhores cristãos e a igreja brasileira seria mais marcante na nossa sociedade. Se somos quase 30% da população brasileira, deveríamos ser mais influentes a ponto de fazer as pessoas conhecerem a Jesus Cristo como Senhor e salvador.

A Igreja de Jesus Cristo é um corpo vivo. Assim a Bíblia o descreve, como também a compara com uma noiva, sendo Jesus Cristo o seu noivo. O Espírito Santo está preparando essa noiva, que ainda é imperfeita, para o grande encontro com seu Noivo. Até lá, tenho que conviver com quem pensa diferente de mim, e vice-versa. Aprendi algo com John Newton (1725-1807) em seu sermão Crescimento na Graça: ninguém é tão sábio que não tenha o que aprender; ninguém é tão estulto que não tenha o que ensinar.

domingo, 14 de abril de 2019

... não posso ...

Na religião...
não posso discordar do calvinismo,
não posso considerar nada bom em um arminiano,
não posso divergir da Confissão de Westminster ou do Princípio Regulador do Culto,
não posso querer o fervor de alguns pentecostais sérios,
não posso ouvir músicas que não são de protestantes,
não posso ser criacionista, 
não posso dizer que a Bíblia é autoritativa e está acima de tudo,
não posso dizer que o Cristianismo é a única religião certa,


Na música...
não posso gostar de Heavy Metal,
não posso não gostar de Anitta, Pablo Vittar ou de Jojo Todynho,
não posso não gostar de funk carioca ou sertanejo moderno, 

No futebol...
não posso dizer que o São Paulo é tri-campeão mundial,
não posso dizer que o Corinthians nem é dono do "seu" estádio,
não posso dizer que o Pelé foi o melhor de todos os tempos,
não posso dizer que o Palmeiras não tem título mundial,
não posso nem dizer que sou são-paulino sem que desconfiem da minha masculinidade,

Nos costumes...
não posso mais ser a favor da família tradicional,
não posso ser contra o sexo antes ou fora do casamento,
não posso dizer que um bebê é macho ou fêmea,
não posso dizer que a pessoal escolha sua prática sexual,
não posso ser contra o aborto,
não posso dizer que a vida começa na concepção, 
não posso não gostar de bacon ou de cerveja,
não posso ser contra o feminismo,
não posso não achar graça dos comediantes atuais,
não posso mais discordar das opiniões dos meus amigos,
não posso transitar de carro com as janelas abertas de noite,
não posso assistir a Rede Globo mais,
não posso educar meus filhos, quando nascerem, do jeito que eu quiser,

Na política...
não posso discordar dos políticos de esquerda, nem dos de direita, 
não posso concordar com nada do governo atual, 
não posso dizer que o Lula é corrupto,
não posso mais confiar no Exército ou nas forças armadas, 
não posso ser a favor da pena de morte ou da prisão perpétua,

Na ciência...  
não posso ter dúvidas quanto a Teoria da Evolução,
não posso dizer que a vida começa na concepção,
não posso ser contra o aborto,

sábado, 2 de março de 2019

Frank Turek e o seu problema com o livre arbítrio


“O problema é no coração, não na cabeça. Eles (ateus) não querem que seja verdade (que o cristianismo seja verdadeiro).”


“O problema está na vontade.”



Essas duas frases foram ditas por Frank Turek, um importante apologeta do cristianismo[1]. Em seu livro, Não tenho fé suficiente para ser ateu (Editora Vida), ele fornece muitos bons argumentos contra o ateísmo. Mas aqui ele escorregou!



A primeira frase está relacionada com a cosmovisão (visão de mundo) que as pessoas têm. De modo consciente ou não, todos nós expressamos nossas opiniões e tomamos decisões com base naquilo que cremos. James Sire, em Dando nome ao elefante (Editora Monergismo), diz que temos um envolvimento com o coração, ou seja, com o âmago da nossa vontade, e nos comprometemos integralmente com aquilo que cremos. Não é apenas uma decisão racional – e nisso Turek está certo – mas é um envolvimento de tudo o que crê e é. Ainda que não haja consciência disso. Então, Turek conclui que ateus não assumem a possibilidade de o cristianismo ser verdade porque sua cosmovisão aponta o vetor da vida deles para outra direção. Ao assumirem o pressuposto de que Deus não existe, a partir dele, eles tomam todas as decisões da vida. Desde tentar responder sobre a origem da vida até o próximo relatório para a FAPESP ou para o CAPES e até mesmo o paper que escrevem para alguma revista científica qualis A.



Mas Turek comete um outro equívoco. No tempo 1:12, Turek diz que o homem tem livre arbítrio para aceitar ou não as coisas e que Deus nos deu o livre arbítrio. Em 2:24, Turek se contradiz. No início de sua resposta ele afirma que o homem tem livre arbítrio podendo escolher o que quer fazer. Mas depois – em 2:24 – ele diz que o problema está na vontade. Ora, se o homem tem a vontade livre e o problema é a sua vontade, logo o livre arbítrio é um problema. E é mesmo. Simplesmente porque o livre arbítrio, a vontade livre do homem, não existe, é uma falácia.



O problema da resposta dele está nesse pronome pessoal nos. Se por nos Turek entende toda a raça humana pós-adâmica, ele está errado, totalmente errado. Se ele entende esse pronome pessoal como toda a raça humana e Adão, ele ainda estará totalmente errado. Mas se ele entende que que essa palavra, nos, corresponde apenas a Adão e Eva, aí concordamos. Acompanhe comigo a análise dessas três possibilidades.





Toda a raça humana, pós Adão, tem livre arbítrio

A palavra livre significa a capacidade que o homem tem de tomar suas decisões livre de qualquer influência, externa ou interna. Sabemos, pela história da humanidade e por experiência própria, que nenhum homem goza dessa liberdade plenamente. O feto não pode ir para onde quer, mas tem que ir aonde sua mãe o leva dentro do útero. E nem eu e você, que está lendo agora, goza da liberdade de não ter começado essa leitura. Você até poderia ter decidido não ler, mas foi forçado a ler pelo seu interesse, pelo autor, pela curiosidade do assunto, ou qualquer outro motivo que o tenha motivado a isso.



Depois que Adão pecou, sua vontade passou a ser dominada, escravizada nas palavras de Jesus, por uma força maior que ele, o pecado. No livro Os Puritanos e a conversão (Editora PES), Samuel Bolton chama o pecado de “o mal sem par”. O pecado é a força motriz que impulsiona o homem para longe de Deus. É o pecado que transforma a vontade humana em inimizade contra Deus e faz o homem tomar as decisões morais que toma, boas ou más, todas elas manchadas. Quando dizemos que todo homem é totalmente depravado não estamos dizendo que o homem pode ser tão mal quanto o pode em malignidade. Mas asseveramos, à luz das Sagradas Escrituras que não mentem, e à luz que vemos na história da humanidade que todas as áreas da vida humana e suas ações, são vistas por Deus como sujas pelo pecado. O pecado nos transformou como “trapos de imundícia” diante de Deus. Exalamos o cheiro putrefato da morte para as narinas de Deus. Depois de Adão, ser humano nenhuma goza de liberdade e do amor de Deus.



A menos que Jesus Cristo tenha morrido por tal pessoa, é firme a decisão de Deus de condenar essa pessoa ao inferno, ao fogo que “não se apaga”. Se a justiça do Senhor Jesus Cristo não for imputada ao homem, ninguém se salvará. Deus está contra o pecador e Sua decisão de destruí-lo já está tomada, “quem não crer já está condenado” são as palavras de Jesus no evangelho do discípulo do amor. Não há como se salvar sozinho. Nenhum esforço que você empreender vai te favorecer a Deus. Ao contrário disso, se você se aproximar de Deus, no dia do seu julgamento, e disser que quer ser salvo pelo que fez, você terá acendido a ira de Deus e vai ouvir dEle “a minha glória, pois, a outrem não darei”.



Toda a raça humana e Adão têm livre arbítrio

Se Turek pensa assim – pessoalmente creio que não – ele se aproxima de uma heresia já condenada na história da Igreja, o pelagianismo. Pelágio ensinava que “homem natural não é concebido em pecado. Consequentemente, a vontade humana não está presa a uma natureza pecaminosa e suas afeições; apenas as escolhas determinam se alguém irá obedecer a Deus, e assim ser salvo.”[2]



Pelágio cria que não existia diferença entre nós e Adão e que somos tão livres hoje quanto Adão era quando foi criado. Não preciso falar mais do que isso. A história já enterrou Pelágio e ninguém tem poder de ressuscitá-lo.



Só Adão e Eva tiveram livre arbítrio

Aos nossos primeiros pais foi dada a ordem de não comerem o fruto da árvore “do conhecimento do bem o do mal”. Se desobedecessem a Deus, eles morreriam. Assim sendo, eles perderiam a sua condição com a qual foram criados, de viverem para sempre. E foi assim que aconteceu. A imagem de Deus (imago Dei) neles ficou pervertida, deturpada, depravada, manchada pelo pecado que cometeram.



A sentença dada por Jesus é que os homens são “escravos do pecado” e escravos não têm liberdade, não são livres. Em outra parte, Jesus disse para Seus interlocutores que eles não queriam ir até Ele para terem vida, o que denota que eles estavam mortos e, como mortos espirituais, não poderiam ter nenhuma vontade em direção a Deus e muito menos serem livres para exercê-la.



Conclusão

Não podemos ir contra a Palavra de Deus e devemos lê-la a partir do seu todo. Por toda ela, vemos que o pecado do home o afasta de Deus e que o pecado do povo de Deus “faz separação” entre ele e Deus. Além disso, é importante destacar que Deus providenciou um meio para que o homem tivesse esse pecado tirado do meio do caminho e pudesse se aproximar de Jesus Cristo.



A morte e a ressurreição do Senhor Jesus Cristo garantem ao povo de Deus a sua salvação. A Bíblia mostra em toda a sua extensão que o sacrifício de Jesus Cristo é perfeito, completo e definitivo. É perfeito porque Ele não pecou e cumpriu cabalmente a Lei de Deus. O sacrifício dEle é completo porque não resta nada que possamos fazer que complemente o que foi feito. E é definitivo porque não há nenhum outro ser que posso substituir o que foi feito por Jesus.



[1] O vídeo de Frank Turek pode ser visto nesse link: https://goo.gl/8Ucj83.
[2] Michael Horton em Pelagianismo: A Religião do Homem Natural - Primeira Parte: Um Pouco de História. O texto completo pode ser lido em http://www.monergismo.com/textos/arminianismo/pelagianismo.htm.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Soberania e responsabilidade - sempre!

Ao SENHOR pertencem a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele habitam.
Salmo 24.1

Já há anos esse versículo tem sido um paradigma para mim. Sempre confiei na soberania de Deus, mas pouco tinha vivido dela na minha própria vida. Sempre ouvi as pessoas falarem em depender de Deus. Tenho experimentado isso na minha vida nos últimos anos de maneira especial.
Saber que sou de Deus dá uma segurança muito grande. Muito é uma palavra bem relativa.

Certamente eu confio em Deus mais hoje do que ontem. As experiências que acontecem comigo são bem subjetivas, mas para mim são fundamentais. É através delas que Deus forja meu caráter, minha fé e meu modo de vida. Minha responsabilidade tem sido como eu respondo à soberania de Deus.
 

Essa segurança é grande porque Deus é grande. Nada em mim tem a dimensão de Deus. O amor dEle é grande por mim. A misericórdia dEle é grande sobre a minha vida. Mas eu realmente sou pequeno diante dEle. Minha fé vai crescendo de tempos em tempos, na medida que Deus quer e como eu a exerço.
 

O salmo diz que tudo pertence a Ele. Eu pertenço a Ele e as circunstâncias à minha volta também são dEle. Por isso, minha reflexão é que 2019 vai ser exatamente do jeito que Ele quer. Como vou responder a isso também faz parte do plano que Ele traçou, mas a resposta é minha. Cabe-me conhecer a Sua Palavra e vontade e decidir como vai ser a minha resposta. Se eu conhecê-lO mais intimamente, minhas respostas serão mais acertadas.
 

Seja o que for que aconteça, meu destino está nas Suas mãos e nada, nem ninguém poderá me tirar desse lugar. Jesus Cristo, o Deus Filho, deu Sua vida por mim. Comprou-me para Si mesmo e a Ele eu pertenço. Quero conhecê-lO cada vez mais e melhor e, dessa forma, 2019 será um verdadeiro ano novo para mim.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Pena de morte e Bíblia



Por isso, quem recusa sujeitar-se à autoridade opõe-se à ordem de Deus, e os que fazem isso trarão condenação sobre si mesmos. Porque os governantes não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas sim para os que fazem o mal. Não queres temer a autoridade? Faze o bem e receberás o louvor dela. Porque ela é serva de Deus para o teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não é sem razão que ela traz a espada, pois é serva de Deus e agente de punição de ira contra quem pratica o mal. Por isso é necessário sujeitar-se a ela, não somente por causa da ira, mas também por causa da consciência.
Romanos 13.2-5

            O que um servo deve fazer ao receber uma ordem do seu senhor? Só há uma resposta: ele deve cumprir essa ordem. Se esse Senhor é o todo-poderoso, sábio e justo, Suas ordens derivam de Sua natureza e elas têm essas mesmas características. Pois é assim que Deus vê o Estado e os governantes, como um servo que deve cumprir as Suas exigências. O texto do apóstolo Paulo é muito claro quanto a isso e não deixa margem para dúvida: “...pois é serva de Deus...”.
            A palavra que Paulo usa aqui no original grego é διάκονος [diáconos] e significa exatamente o que você está pensando. Da mesma forma que a diaconia foi instituída em Atos 6, para servir na igreja local, o estado foi constituído para servir a Deus. E como o estado serve a Deus? O nosso texto responde. O estado é “agente de punição de ira contra quem pratica o mal” e o agente de exaltação para quem faz o bem, “Faze o bem e receberás o louvor dela”. É para isso que o estado serve: punir o mal e exaltar o bem.
            Enquanto a família, escola, artes, igreja e trabalho também são servos de Deus, desempenhando cada um a sua função, o estado tem a função de manter a ordem na sociedade, de regular a convivência das pessoas através das leis, fazê-las serem cumpridas e promover a justiça de Deus a partir da Sua Palavra. Pois é a Palavra de Deus o padrão que Deus estabeleceu de justiça, equidade e retidão. E a maneira de o estado punir o mal é usando a espada.
            Matar as pessoas é um pecado que as pessoas cometem. O assassinato é proibido nos Dez Mandamentos, que foi dado para regular a relação entre as pessoas, ainda que possa ser usado como uma fonte para o estado formular as suas leis.[1] O fato é que o estado foi dotado por Deus com a prerrogativa de coibir o mal, ainda que para isso o estado use a pena capital. A pena de morte, como instrumento para punição do assassino, é bem anterior à lei que Moisés recebeu.
            A primeira referência à pena de morte está justamente após o Dilúvio a que Deus subjugou a raça humana (Gn 9.6). O texto é muito claro. Quem matar deverá ser punido com a própria vida. E, ao contrário, do que as pessoas más intencionadas ou ignorantes argumentam, a pena de morte não banaliza a vida. Ao contrário, a razão que Deus dá para um preço tão alto do assassinato é justamente o valor que Ele dá a vida humana.
            A humanidade foi criada “à sua imagem e semelhança”, portanto trazemos a imago Dei na nossa vida. De alguma maneira os homens expressam a Deus, porque foram criados para essa finalidade. Ainda que manchados e deturpados pelo pecado, carregamos essa imagem de Deus naquilo que somos e fazemos. É para preservar essa imagem de Deus e o valor do homem para Deus, que Ele exige de Noé a justa paga pelo assassinato. “O sentido não se refere apenas ao perpetrador, que é feito à imagem de Deus (...) a vítima era alguém feito à imagem e de valor e importância inestimáveis. As pessoas feitas à imagem de Deus não são mero refugo ou lixo.”[2]
            Quando a lei foi dada ao povo de Israel, e pena capital não foi revogada (Êx 21.25). Em certa medida, foi até estendida atingindo as pessoas que adulteravam e até mesmo filhos teimosos que se recusassem a obedecer a seus pais (Lv 20.10; Dt 21.88ss). Até mesmo a desobediência a uma ordem de Deus era punida com a pena de morte e foi isso que aconteceu com Acã e sua família (Js 7.1, 26)[3].
            Aqueles que advogam a presença hodierna da pena de morte na sociedade normalmente são acusados de não compreenderem o amor, a misericórdia e a justiça de Deus expressos no Novo Testamente. Sistematicamente a argumentação contra a pena de morte está associada ao ministério de Jesus, ao fato de termos que amar os nossos inimigos, orar por eles e darmos a outra face. Diante do que Jesus fez, ter morrido pelos nossos pecados, fica impossível defender a pena de morte. Será mesmo que o Novo Testamento mostra isso?
            Com Jesus há várias passagens importantes para o nosso tema. No famoso Sermão do Monte, Jesus reafirmou a pena de morte, porém isso não é percebido. Ele disse que não tinha vindo para revogar a lei, mas para cumpri-la (Mt 5.17). Mais à frente Ele disse que qualquer um matasse uma pessoa ou que se irasse contra outra pessoa, veria ser levado a julgamento – pena de morte (Mt 5.21-22). O Novo Testamento lida com a questão da pena de morte explicitamente, pelo menos em dois episódios.
            Em Atos 25, Paulo apresenta sua defesa diante das acusações dos judeus, que não apresentaram nenhuma prova contra ele, somente acusações verbais. Festo, que governou a Judeia, foi confrontado por Paulo quando ele queria agradar os judeus e levar o “julgamento” do apóstolo para Jerusalém. Sendo cidadão romano, Paulo apelou para que ele fosse julgado no tribunal de César. Eis a sua argumentação no versículo 11: “Se, pois, fiz algum mal e tenho cometido algum crime digno de morte, não recuso morrer. Mas, se nada há daquilo de que estes homens me acusam, ninguém pode me entregar a eles a fim de agradá-los. Apelo para César.” (grifos meus).
É importante reforçar o fato que a igreja está separada do estado. São instituições diferentes, ambas criadas e reguladas por Deus, representantes dEle e também com funções diferentes. Nesse sentido, “embora a Bíblia permita o uso da espada pelo governo para propósitos civis, ela não endossa o seu uso para finalidades espirituais. A espada é para ser usada pelo estado, não pela igreja.”[4] Portanto, a instituição da pena de morte é exclusiva aos governantes, que são constituídos por Deus – ainda que através do nosso voto.

           


[1] Para uma melhor compreensão da influência dos Dez Mandamentos na legislação, veja Rosângela Zizler, Influência da ética judaico-cristã nos ordenamentos jurídicos da atualidade, em https://jus.com.br/artigos/24834/influencia-da-etica-judaico-crista-nos-ordenamentos-juridicos-da-atualidade.
[2] Walter C. Kaiser Jr, O cristão e as questões éticas da atualidade, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2015, p. 173.
[3] Norman L. Geisler, Ética cristã: alternativas e questões contemporâneas, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2006, p. 205.
[4] Norman Geisler e Thomas Howe, Manual de dificuldades bíblicas, Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 2015, p. 294 (grifos dos autores).

Três afirmações de que Deus e evolução não podem estar juntos

                 Foi com vontade de conhecer como o mundo físico funciona e como Deus criou todas as coisas, especialmente os animais, é que...