“O problema é no coração, não na cabeça. Eles
(ateus) não querem que seja verdade (que o cristianismo seja verdadeiro).”
“O problema está na vontade.”
Essas duas frases foram
ditas por Frank Turek, um importante apologeta do cristianismo[1].
Em seu livro, Não tenho fé suficiente
para ser ateu (Editora Vida), ele fornece muitos bons argumentos contra o
ateísmo. Mas aqui ele escorregou!
A primeira frase está
relacionada com a cosmovisão (visão de mundo) que as pessoas têm. De modo
consciente ou não, todos nós expressamos nossas opiniões e tomamos decisões com
base naquilo que cremos. James Sire, em Dando
nome ao elefante (Editora Monergismo), diz que temos um envolvimento com o
coração, ou seja, com o âmago da nossa vontade, e nos comprometemos integralmente
com aquilo que cremos. Não é apenas uma decisão racional – e nisso Turek está
certo – mas é um envolvimento de tudo o que crê e é. Ainda que não haja
consciência disso. Então, Turek conclui que ateus não assumem a possibilidade de
o cristianismo ser verdade porque sua cosmovisão aponta o vetor da vida deles
para outra direção. Ao assumirem o pressuposto de que Deus não existe, a partir
dele, eles tomam todas as decisões da vida. Desde tentar responder sobre a
origem da vida até o próximo relatório para a FAPESP ou para o CAPES e até mesmo
o paper que escrevem para alguma
revista científica qualis A.
Mas Turek comete um outro
equívoco. No tempo 1:12, Turek diz que o homem tem livre arbítrio para aceitar
ou não as coisas e que Deus nos deu o livre arbítrio. Em 2:24, Turek se contradiz.
No início de sua resposta ele afirma que o homem tem livre arbítrio podendo
escolher o que quer fazer. Mas depois – em 2:24 – ele diz que o problema está na
vontade. Ora, se o homem tem a vontade livre e o problema é a sua vontade, logo
o livre arbítrio é um problema. E é mesmo. Simplesmente porque o livre
arbítrio, a vontade livre do homem, não existe, é uma falácia.
O problema da resposta
dele está nesse pronome pessoal nos. Se por nos Turek entende toda a
raça humana pós-adâmica, ele está errado, totalmente errado. Se ele entende
esse pronome pessoal como toda a raça humana e Adão, ele ainda estará totalmente errado. Mas se ele entende que
que essa palavra, nos, corresponde apenas a Adão e Eva, aí concordamos. Acompanhe
comigo a análise dessas três possibilidades.
Toda a raça humana, pós Adão, tem livre arbítrio
A palavra livre
significa a capacidade que o homem tem de tomar suas decisões livre de qualquer
influência, externa ou interna. Sabemos, pela história da humanidade e por
experiência própria, que nenhum homem goza dessa liberdade plenamente. O feto
não pode ir para onde quer, mas tem que ir aonde sua mãe o leva dentro do
útero. E nem eu e você, que está lendo agora, goza da liberdade de não ter
começado essa leitura. Você até poderia ter decidido não ler, mas foi forçado a
ler pelo seu interesse, pelo autor, pela curiosidade do assunto, ou qualquer outro
motivo que o tenha motivado a isso.
Depois que Adão pecou,
sua vontade passou a ser dominada, escravizada nas palavras de Jesus, por uma força
maior que ele, o pecado. No livro Os Puritanos
e a conversão (Editora PES), Samuel Bolton chama o pecado de “o mal sem par”.
O pecado é a força motriz que impulsiona o homem para longe de Deus. É o pecado
que transforma a vontade humana em inimizade contra Deus e faz o homem tomar as
decisões morais que toma, boas ou más, todas elas manchadas. Quando dizemos que
todo homem é totalmente depravado não estamos dizendo que o homem pode ser tão
mal quanto o pode em malignidade. Mas asseveramos, à luz das Sagradas
Escrituras que não mentem, e à luz que vemos na história da humanidade que
todas as áreas da vida humana e suas ações, são vistas por Deus como sujas pelo
pecado. O pecado nos transformou como “trapos de imundícia” diante de Deus.
Exalamos o cheiro putrefato da morte para as narinas de Deus. Depois de Adão,
ser humano nenhuma goza de liberdade e do amor de Deus.
A menos que Jesus Cristo
tenha morrido por tal pessoa, é firme a decisão de Deus de condenar essa pessoa
ao inferno, ao fogo que “não se apaga”. Se a justiça do Senhor Jesus Cristo não
for imputada ao homem, ninguém se salvará. Deus está contra o pecador e Sua
decisão de destruí-lo já está tomada, “quem não crer já está condenado” são as
palavras de Jesus no evangelho do discípulo
do amor. Não há como se salvar sozinho. Nenhum esforço que você empreender
vai te favorecer a Deus. Ao contrário disso, se você se aproximar de Deus, no
dia do seu julgamento, e disser que quer ser salvo pelo que fez, você terá
acendido a ira de Deus e vai ouvir dEle “a minha glória, pois, a outrem não
darei”.
Toda a raça humana e Adão têm livre arbítrio
Se Turek pensa assim –
pessoalmente creio que não – ele se aproxima de uma heresia já condenada na
história da Igreja, o pelagianismo. Pelágio ensinava que “homem natural não é
concebido em pecado. Consequentemente, a vontade humana não está presa a uma
natureza pecaminosa e suas afeições; apenas as escolhas determinam se alguém
irá obedecer a Deus, e assim ser salvo.”[2]
Pelágio cria que não
existia diferença entre nós e Adão e que somos tão livres hoje quanto Adão era
quando foi criado. Não preciso falar mais do que isso. A história já enterrou
Pelágio e ninguém tem poder de ressuscitá-lo.
Só Adão e Eva tiveram livre arbítrio
Aos nossos primeiros
pais foi dada a ordem de não comerem o fruto da árvore “do conhecimento do bem
o do mal”. Se desobedecessem a Deus, eles morreriam. Assim sendo, eles
perderiam a sua condição com a qual foram criados, de viverem para sempre. E
foi assim que aconteceu. A imagem de Deus (imago Dei) neles ficou pervertida,
deturpada, depravada, manchada pelo pecado que cometeram.
A sentença dada por
Jesus é que os homens são “escravos do pecado” e escravos não têm liberdade,
não são livres. Em outra parte, Jesus disse para Seus interlocutores que eles
não queriam ir até Ele para terem vida, o que denota que eles estavam mortos e,
como mortos espirituais, não poderiam ter nenhuma vontade em direção a Deus e
muito menos serem livres para exercê-la.
Conclusão
Não podemos ir contra a
Palavra de Deus e devemos lê-la a partir do seu todo. Por toda ela, vemos que o
pecado do home o afasta de Deus e que o pecado do povo de Deus “faz separação”
entre ele e Deus. Além disso, é importante destacar que Deus providenciou um
meio para que o homem tivesse esse pecado tirado do meio do caminho e pudesse
se aproximar de Jesus Cristo.
A morte e a ressurreição
do Senhor Jesus Cristo garantem ao povo de Deus a sua salvação. A Bíblia mostra
em toda a sua extensão que o sacrifício de Jesus Cristo é perfeito, completo e
definitivo. É perfeito porque Ele não pecou e cumpriu cabalmente a Lei de Deus.
O sacrifício dEle é completo porque não resta nada que possamos fazer que complemente
o que foi feito. E é definitivo porque não há nenhum outro ser que posso
substituir o que foi feito por Jesus.
[1]
O vídeo de Frank Turek pode ser visto nesse link: https://goo.gl/8Ucj83.
[2]
Michael Horton em Pelagianismo: A
Religião do Homem Natural - Primeira Parte: Um Pouco de História. O texto
completo pode ser lido em http://www.monergismo.com/textos/arminianismo/pelagianismo.htm.