A campeã
do carnaval em São Paulo em 2013 é a Mocidade Alegre. Isso não me interessa
nenhum pouco. Poderia ser qualquer escola que ganhasse o título, meu interesse
pelo carnaval é quase nulo. Mas vendo as reportagens na televisão sobre o
desfile, um fato me chamou a atenção: o tema apresentado pela escola campeã – A
Sedução Me Fez Provar, Me Entregar à Tentação... [1]
O homem
sempre foi fascinado pelo desconhecido e pelo proibido. Se você quiser tornar
alguma coisa irresistível, faça com que as pessoas percebam a proibição do
fato. Além disso, outro mecanismo de persuasão é o poder. Diga a alguém que se
algo proibido for feito a pessoa se tornará poderosa e pronto, estes são os
ingredientes da tentação e da queda. Foi assim no Éden, foi assim no deserto
com Jesus, foi assim com Judas Iscariotes, é assim conosco todos os dias da
nossa vida.
Aceite, sem medo, o convite
da Mocidade Alegre... Deixe-se seduzir pela possibilidade de assumir o papel de
criador... Prove do fruto proibido e seja você também capaz de dar novos
desfechos às verdades, histórias e conceitos que nos foram apresentados desde
sempre... Sinta o fascínio de poder reinventar o mundo!
Deixe-se seduzir pela
inebriante sensação de mudar os rumos dos fatos... Entregue-se à essa
tentação!!!
“...mudar os rumos dos fatos...” Ah, que maravilha seria mudar as coisas pelas quais somos responsáveis!!! E, depois disso, dar o fim que desejávamos anteriormente. Tirar dos nossos ombros a nossa própria responsabilidade. Não sermos culpados de nada. Transferirmos as nossas culpas para outra pessoa. Podermos ter a capacidade de fazer o que quisermos e não pagar pelos erros das nossas escolhas. O velho ditado diz que “errar é humano, divino é perdoar”. No fundo, não queremos a possibilidade do perdão, o homem quer mesmo é errar e não ser responsabilizado.
Desde sempre aprendemos que,
ao ceder à tentação do pecado, conheceremos as trevas... Mas hoje a Mocidade
Alegre refaz o final e mostra que, pecando, alcançaremos a redenção,
Na vaidade, nos tornaremos
mais bonitos e atraentes... Graças à luxúria, poderemos compartilhar o
prazer... A inveja nos fará despertar para procurarmos nossos talentos... É com
a ira que mostraremos nossa força e ganharemos respeito como guerreiros... Não
fosse a preguiça, como poderíamos amar o aconchego de nossos lares?... A avareza
nos trará economia e riqueza... Bem aventurados os gulosos, pois saberão sentir
os sabores do mundo!
Deleite-se... Sinta-se à
vontade para sucumbir ao pecado sem culpa e assim, no nosso final, você
conquistará os céus!!!
Esse trecho da sinopse do samba enredo da escola campeã é a síntese do que pensa o homem sem Deus. “...hoje a Mocidade Alegre refaz o final e mostra que, pecando, alcançaremos a redenção”. Isso me lembra um poema de Gregório de Matos, maior poeta do barroco brasileiro, apelidado de Boca do Inferno. Eis um trecho desse poema (A Jesus Cristo Nosso Senhor),
Pequei, Senhor; mas
não porque hei pecado,
Da vossa alta
clemência me despido;
Porque quanto mais
tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar
mais empenhado.
A Bíblia não nomina os chamados “pecados capitais” – referência feita pelo samba enredo – que seriam os pecados basilares de todos os outros. De qualquer modo, todo e qualquer pecado é derivado de um só, esse sim mostrado no relato bíblico: a vontade de se tornar independente do Criador. Os criadores do samba inverteram a ordem natural da criação (para usar uma expressão do apóstolo Paulo – Romanos 1:26) e tornaram em benefício aquilo que a Bíblia condena enfaticamente.
A prática do pecado é mostrada como sem nenhuma consequência nessa frase, “Sinta-se à vontade para sucumbir ao pecado sem culpa e assim, no nosso final, você conquistará os céus!!!” Os céus são dados como prêmio a quem peca desenfreadamente. Quanta distância do que nos apresenta a Palavra de Deus. “Porque o salário do pecado é a morte.” (Romanos 6:23); “A alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18:4, 20). O céu não é conquistado na presença do pecado. O sacrifício de Jesus Cristo pela Sua Igreja é “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” Efésios 5:27. Portanto, importa sim o quanto pecamos nesta vida, pois se pecamos damos prova que não somos filhos de Deus, “Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados.” (Efésios 4:1).
Em algum momento da nossa vã existência, todos nós imaginamos – ao
menos por um dia – poder realizar feitos impossíveis – ou serão possíveis?
Seja na ciência, seja na arte, vem a irresistível tentação de
refazer as regras da vida e o compasso da existência, dando vazão às loucuras
que passam a ser nossa razão... Fascinante é a sensação de poder dar novos
horizontes aos limites humanos... E assim será!
No desafio à lógica e às leis naturais, será possível ao homem voar
na imensidão, descobrir o elixir da eterna juventude e até mesmo viajar para
outra dimensão,
Desafie os limites. Ouse reinventar a criação. Brinque de Criador!
Essa é a proposta do diabo desde o princípio – “Brinque de Criador!” É uma brincadeira mesmo. O que o diabo faz é brincar com o ser humano, pois cria um mundo de fantasias que não podem ser reais. O ser humano nunca poderá ser o criador do seu futuro, no mesmo sentido que Deus é. Logicamente que as escolhas que eu faço criam certas condições para minha existência. Mas eu não crio minha redenção; eu não crio minha salvação. O samba enredo conclama as pessoas a darem “vazão às loucuras que passam a ser nossa razão.” E não é isso que as pessoas querem? Que as loucuras se tornem aceitáveis! Mas de novo, esse samba enredo se choca com a Palavra de Deus. “Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. (1 Coríntios 1:27). Existe uma “loucura” nas coisas de Deus que não nos cabe tentar entender, uma vez que não temos a capacidade para entendê-las. Mas é preferível a “loucura” de Deus à nossa razão corrompida pelo pecado.
Dos tantos devaneios
possíveis pelo direito de refazer os finais, talvez o mais enigmático e
encantador seja a chance de avançar no tempo e conhecer o amanhã...
Se você algum dia sonhou com
um mundo de paz, amor, prosperidade e união, a Mocidade Alegre – pela força da
magia do próprio carnaval – reescreverá o futuro, pois um sambista jamais perde
a esperança, e tem na união sua força maior. O amanhã será melhor, porque somos
nós sambistas – portadores de tantos sonhos e ilusões – que o estamos
construindo, com a força dos nossos pavilhões... Juntos, unidos, reunidos.
Não podemos mudar e melhorar
o nosso futuro se continuarmos acreditando, todo dia, nas mesmas coisas.
Portanto, liberte-se... Reinvente-se... Se entregue você também à tentação de
refazer o final... Aceite o convite da Mocidade Alegre a recriar o seu
destino...
...E o “Final Feliz”, só
depende de você!!!
Outra ideia do samba enredo – que reforça a ideia de independência – é que o “final feliz” só depende de nós. Mais uma vez a soberba volta a ser o tema da sinopse apresentada pela própria escola de samba. Não depende só de nós a nossa vida. Minha vida depende também da minha esposa, minha família, meus irmãos em Cristo, meus amigos, meu trabalho, da minha relação comigo mesmo. Minha vida depende de aspectos biológicos do meu corpo, das minhas emoções. Se quisermos depender apenas de nós mesmos, temos de nos lembrar que “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9). E o mesmo profeta nos adverte sobre em quem colocamos a nossa confiança, “Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR!” (Jeremias 17:5).
Mas alguém poderá dizer que o carnaval é uma expressão da cultura popular e que a Bíblia não tem nada a ver com a cultura de um povo; que a cultura pode mudar de um povo para outro e que, necessariamente, a cultura não interfere na vida espiritual das pessoas. Será mesmo que os povos que cultuam os elementos da natureza não estão errados? Será que as culturas africanas não têm nada de errado quando colocam elementos da natureza como deuses? Será que as culturas orientais não são contrárias à Palavra de Deus? A propósito, as palavras cultura e cultuar têm a mesma raiz.
[1]
Todas as informações foram retiradas do website da própria escola: http://mocidadealegre.com.br/index.php?id=1052.
Um comentário:
Caro Marcos : Lindo...e não se trata de filosofia ou outro artifício humano para tentar entender "O que tem isso a ver com Deus..." Tem sim !!!! Enquanto perserverarmos em ocultar nosso "real" pecado e não nos aproximarmos de Deus, estaremos sempre sujeitos a estas artimanhas do inimigo ... nunca percebendo que o problema está em nós e não na sociedade,igreja,etc.Quando aprenderemos a cultuar da maneira correta para que comecemos nos aculturarmos (formarmos então nossa cultura) no que é essencial, básico e fundamental ao elemento humano ... seu Criador !
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