Já falei mais de uma vez que o segundo livro mais importante do mundo é o dicionário. Todo mundo deveria ter um dicionário em casa. Todo mundo deveria consultar o dicionário. Todo mundo deveria ter um dicionário no bolso da calça, dentro do carro, no celular, no computador e em todos os lugares. Os dicionários deveriam estar disponíveis à consulta popular em praças, pontos de ônibus, estações de trem e metrô, em supermercados, repartições públicas. Mas acho, principalmente, que o dicionário seria muito útil nas igrejas.
Se eu falo que sou crente, posso ser identificado com qualquer pessoa que crê em algo ou alguém, afinal de contas, a definição do dicionário para a palavra crente é aquele que crê. Assim, posso ser identificado com um espírita que crê na reencarnação. Posso ser identificado com um budista, que crê no ensinamento de como superar o sofrimento e atingir o nirvana (estado total de paz e plenitude) por meio da disciplina mental e de uma forma correta de vida. Se disser que sou crente posso ser confundido com um muçulmano radical que crê que os crentes em Jesus precisam ser eliminados. A Bíblia diz que até os demônios crêem (Tiago 2:19) e eu não sou um demônio.
Se eu falo que sou evangélico, vou ter que explicar um monte de situações constrangedoras nas quais muitos evangélicos entram. As pessoas podem pensar que ando guardando dinheiro nas cuecas e meias. A quem pense que faço parte de uma igreja moderna qualquer que fica fazendo passeata, que entrega um monte de dinheiro na igreja. Tem gente que vai pensar que o pastor da minha igreja é dono de televisão, ou que fica fazendo milagre a torto e a direito na TV para os outros verem. Segundo o dicionário, evangélico é aquele que se apresenta em conformidade com os Evangelhos. Mas tem tanta gente fazendo cada coisa contrária aos Evangelhos que me dá até medo ser confundido com essas pessoas e ainda corro o risco de ser qualificado como algum tipo de programa da televisão.
Se eu disser que sou protestante, vou ter que explicar contra o quê estou protestando. A definição do dicionário é realmente interessante nesse caso. Segundo o dicionário Houaiss, um protestante é adepto de alguma das denominações cristãs que se separaram da igreja católica romana durante a Reforma, ou de algum dos grupos que descendem delas. O problema é que muitos grupos se dizem descendentes da Reforma Protestante porque não têm nada a ver com a igreja católica. Além do mais, o Brasil, infelizmente, ainda é um país com pouca gente que conhece História geral e até eu situar a pessoa no contexto do período da Reforma e Contra-reforma a pessoa já perdeu o interesse.
Se eu assumir que sou cristão talvez fique mais fácil. O cristianismo é muito grande e mesmo dizendo que sou cristão, tenho que explicar muita coisa. Por exemplo, um dia me disseram que não podia ser cristão porque eu ria muito e os “cristãos tinham cara feia”. Na Palestina, onde o cristianismo nasceu, se eu disser que sou cristão, posso ser confundido com um católico romano ou da Igreja Ortodoxa e não sou nenhum dos dois. Se disser que sou cristão no meu prédio, os muçulmanos que moram aqui vão pensar que acredito em Maria mais do que em Jesus. Se assumo que sou cristão, no meio acadêmico, é capaz de algum católico romano ou espírita me chamar de irmão.
Veja o que o dicionário traz: “diz-se de ou aquele que professa ou freqüenta igreja de uma das modalidades do cristianismo”. Aqui o dicionário não ajudou muito, pois ele deixou muito ampla a definição, “modalidades do cristianismo”. Só pra dar um exemplo, o cristão do sul dos Estados Unidos é bem diferente daquele da região norte. Aqui no Brasil, um cristão da Presbiteriana não se parece nem um pouco com um cristão da Assembleia. Nesse país, a “mistura de raças” também acontece nas igrejas. Assim como encontramos brasileiros de todas as tonalidades de pele, olhos e cabelos, também temos igrejas pra todos os gostos.
Olha a mistura. Aqui temos os presbiterianos do Brasil, presbiterianos renovados, presbiterianos independentes e presbiterianos conservadores. Também temos batistas regulares, batistas da Convenção, batistas renovados, batistas independentes e batistas reformados. A Assembleia de Deus não é diferente, parece uma colcha de retalhos: tem assembleiano com usos e costumes, os sem usos e costumes, tem assembleiano carismático, assembleiano renovado e se você quiser pesquisar, vai encontrar muito mais.
Apesar dos pesares não posso me furtar ao que a Bíblia ensina, a despeito da violência que é praticada contra a Palavra de Deus. Um grande amigo, Antonio Poccineli, que já descansa no Senhor, sempre me dizia que os “pregadores estão fazendo a Bíblia dizer o que ela não diz”. E ele estava certo naquela época... e continua certo ainda hoje! Apesar de muitos hereges se dizerem cristãos, essa é a maneira como os primeiros discípulos foram chamados (Atos 11:26), CRISTÃO, e é assim que me identifico. Depois disso, vem as explicações!
7 comentários:
Boa Marcos, muito bom texto.
Antes de falar o que penso ser, deixa colocar aqui uma observação que sempre me incomoda DEMAIS.
Você escreveu: "Na Palestina, onde o cristianismo nasceu, se eu disser que sou cristão, posso ser confundido com um católico romano ou da Igreja Ortodoxa e não sou nenhum dos dois".
Me incomoda demais essa mistura. Se você estiver dizendo que essa é percepção e reação das pessoas que vivem lá, hoje, 2010. Ok. fico por aqui.
Mas se você se refere ao local, Palestica, como referência histórica, ai a coisa pega. Isso porque, a confusão com a igreja católica, é de doer, pois ela ROUBOU a identidade cristã para si, e todos nós sabemos disso pela história. o ortodoxos vieram depois, mancomunados com os católicos.
Daí a vele a sua citação de Atos 11:26. Mas a verdadeira explicação para CRISTÃO (de atos), e fora com o dicionário, agora, é que eles foram chamados cristãos, por serem os "seguidores de Cristo" que vinham transtornando o mundo.
Neste aspecto, a maioria dos cristãos de hoje, e fora com os nominais, estão devendo tremendamente.
O que penso ser! Por filiação, sou filho de Deus. Por nacionalidade, sou Cidadão do Reino de Deus. Por identidade, Cristão. Por ideologia, sou Protestante.
Claro, valem as explicações, também.
Valeu. Gostei muito.
Um forte abraço,
Sergio
htt://smenga.blogspot.com
Não posso falar da Palestina antiga porque não estava lá. Mas a impressão que eu tenho é que num determinado momento a resistência dos cristãos verdadeiros (os bíblicos) não surtiu mais efeito.
Se eles atormentavam o mundo, em algum momento pararam de fazer isso. Pegando como exemplo os relatos de Atos, os que fincavam o pé nos ensinos de Jesus realmente abalaram o mundo e eles eram minoria.
A pergunta é: em que momento os cristãos de verdade pararam de influenciar a sociedade em que estavam inseridos? E outra pergunta derivada dessa: por que essa influência deixou de existir?
Até mais, Marcos.
É, imaginei que essa teria sido a sua impressão quando esteve por lá.
Sobre o relato de Atos, olha, posso estar enganado, mas não creio que eram a minoria. Depois 2 e 4, temos lá um número bastante significativo de pessoas que foram acrescentadas à iigreja.
Penso, sinceramente, que essa contabilidade, era de longe, diferente da contabilidade que se faz hoje em dia. Hoje, basta levantar a mão, respondendo a um apelo antropocêntrico, apelando ao emocional e às necessidades humanas, recitar uma oração mágica e ouvir que seu nome está sendo escrita no livro da vida, e pronto, basta isso para ser acrescido no número de conversos.
Sobre suas perguntas, olha, não querendo ser genérico, te digo que até cinquenta anos para trás, quem era "crente", fazia a diferença. Fora isso, lembramos de várias histórias pe cristãos que realmente fizeram a diferença nesse mundo. Morávios como exemplo.
Quando deixaram de fazer a diferença? Ora, quando puseram a Bíblia de lado, e começaram a usar das técnicas mundanas do marketing, da massificação. Quando a igreja se conformou com o mundo, na pregação, na música, na liturgia. de cinquenta anos para cá. Não querendo generalizar.
Penso eu.
Quando falo "Depois de 2 e 4", estou falando dos capítulos 2 e 4 de Atos.
Deculpas.
Marcos e pr. Menga,
o mundo relativizou o termo "cristão". Vale para quase tudo, como o texto diz.
Ao meu ver, a questão não é simplesmente que abandonaram a Palavra, mas a maioria se recusou a vivê-la. Afinal, ela impõe muitas limitações a quem está na carne, não é?
Então, para não terem de viver segundo o Evangelho, foi preciso desacreditá-lo, transformá-lo em outro, desmitologizá-lo (para usar uma expressão dos neo-ortodoxos), e Deus e Sua palavra foram relativizados.
O Cristianismo significa exatamente uma nova vida em Cristo; um viver em oposição ao mundano; e, infelizmente, o que mais vemos hoje são cristãos nominais, de faz-de-contas.
Nossas igrejas estão cheias deles, por isso, especialmente a igreja ocidental, não tem sido luz nem sal no mundo. Pelo contrário, cada vez mais o mundo invade a igreja com suas técnicas antropocêntricas, em que o deleite e o prazer do homem está em si mesmo.
O exemplo mais emblemático de amor a Cristo ocorre nos países Islâmicos e Comunistas, onde a perseguição é brava; perde-se tudo, os bens, a família, a liberdade e, muitos, a vida.
Resta-nos resistir, pregar e viver o Evangelho. É difícil, mas nada se comparado ao sacrifício que o Senhor Jesus fez por nós.
Que Ele nos capacite a ser como Ele, e viver por Ele.
Grande abraço, meus irmãos!
Cristo os abençoe!
Caro Marcos.
Parabéns pelo texto muito apropriado para os dias de hoje.
Mostra a realidade do crente querendo se explicar para o mundo para ser bem recebido.
Quanto a mim, se pedirem uma explicação de quem sou, digo como está no perfil do meu blog: "Eu não sou nada para o mundo, quando deixo tudo para louvar e glorificar o meu Senhor Jesus (LC)."
Esperando claro ser posto pra fora ate mesmo da igreja que perguntou pois todos; ate os "filhos de Deus", só amam os títulos, as posições, e, quando alguém não é nada por causa do nome de Cristo, não é nada mesmo pra eles também...
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Fique na paz de Cristo.
A ideologia não se mantém pelo que você domina, mas com o que você pensa e idealiza (LC).
Grande abraço
Luiz Clédio
Internautas Calvinistas
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