sábado, 27 de abril de 2013

Jesus, nem manso e nem suave!!!



            Eu sei que tem uma parte da igreja evangélica brasileira que não gosta de estudar a Bíblia. Essas pessoas ficam só na leitura, muitas vezes, superficial e não querem saber de se aprofundar nos assuntos. Muitas não gostam de ler. O problema é que não gostam de ler nada – livros, revistas, jornais e nem o manual do carro que compram! O problema que vejo nisso é que ou a pessoa está errada ou Deus está errado. Bem, se Deus escolheu Se comunicar conosco através de um livro que precisa ser lido e a pessoa que se diz cristã não gosta de ler, temos um problema.

            Contudo, não somente ler a Bíblia, mas é preciso que ela seja compreendida e aplicada à vida. Em seu mais recente livro, Luiz Sayão dá um diagnóstico preciso dessa situação: “...muita gente toma decisões teológicas por reação emocional e não por consciência e aprofundamento...”. E tem algo pior. Na visão de Sayão, os pastores também não sabem o que pensam, “...cresce o número de pastores que só é contra alguma coisa, sem saber o que ele mesmo é” (p.18, grifos do autor – Agora sim!: teologia na prática do começo ao fim, São Paulo: Hagnos, 2012).

            O problema em não ler a Bíblia se divide em duas partes. Acredito que uma face do problema é não saber, não conhecer o que a Bíblia diz. A Bíblia ensina coisas práticas sobre casamento, educação de filhos, relacionamento familiar, relacionamento entre empregado e empregador, cuidado com as finanças, respeito às autoridades políticas, relacionamento do cidadão com o Estado, entre outros temas. Veja você que, apesar de corriqueiros, esses assuntos são a base da nossa vida. Apesar de lidarmos com essas questões todos os dias, temos vários problemas em todas essas áreas que poderiam ser evitados se seguíssemos os princípios bíblicos.

            A segunda parte desse problema é dizer o que a Bíblia não diz. Um caso extremado dessa situação é o de uma artista brasileira muito famosa na década de 1980 que se diz (ou dizia) evangélica. Ela foi casada muitas vezes, estrelou filme pornográfico e, vez ou outra, é chamada para participar de programas televisivos para dar sua opinião sobre assuntos bíblicos. Leia uma de suas afirmações: “Venha a mim do jeito que você está e eu farei a obra” (se tiver coragem, veja aqui). E esse é um problema sério, pois quem prega, ou quem ensina a Bíblia, se tiver uma postura dessas, vai ensinar qualquer outra coisa, exceto a Bíblia.


            A maneira como Jesus lidava com as pessoas é um prato cheio para esse erro tipo dizer o que a Bíblia não diz. Esta semana, a TVUOL publicou um vídeo com depoimentos de três cantores evangélicos, Thalles, Rodolfo Abrantes e Pregador Luo. O título do vídeo é Religiosidade atrapalha o gospel. Nele, os entrevistados dão sua opinião sobre a relação que têm com a religião e com a prática religiosa.

            Thalles disse:
“Jesus era um cara suave. Jesus andava no meio do povo, andava no meio dos pobres, alimentava as multidões com pão, peixe. E se tivesse pouco pão, pouco peixe ele multiplicava pra alegrar todo mundo. Depois, todo mundo tava alimentado, ele trocava uma ideia e falava por parábolas, contando historinha pra ficar mais suave, pra galera entender, fazendo as coisas paulatinamente.”

            Jesus multiplicou pães e peixes duas vezes nos Evangelhos.Uma das vezes, usando cinco pães e dois peixes (Mateus 14:13-21; Marcos 6:31-44; Lucas 9:10-17; João 6:5-15). Em outra ocasião, Ele multiplicou “sete pães e alguns peixes” (Marcos 8:1-9; Mateus 15:32-39). Pelo que se lê nos Evangelhos, essas multiplicações não eram corriqueiras, mas fatos excepcionais do Seu poder. Além disso, contar parábolas não tinha a intenção de aliviar os fatos. O próprio Jesus explica porque falava em parábolas e, pela fala de Jesus, a intenção não era suavizar nada:

Os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram: Por que falas ao povo por parábolas? Ele respondeu: A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles não. A quem tem será dado, e este terá em grande quantidade. De quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Por essa razão eu lhes falo por parábolas: Porque vendo, eles não veem e, ouvindo, não ouvem nem entendem.” (Mateus 13:10-13)

            Jesus falava por parábolas para que algumas pessoas não entendessem o que era dito. Entender suas palavras era para um grupo restrito de pessoas, não para todos. Aos outros, a visão e os ouvidos ficavam tapados justamente pelo uso das parábolas. Isso não significa que Jesus falava sempre por parábolas. Elas tinham uma função específica e didática no ministério de Jesus. E parece que o Thalles se esqueceu disso (ou não sabe disso).

            Outra afirmação é a do cantor Rodolfo. Ele teve uma conversão radical e verdadeira, abandonou a vida que tinha antes de Cristo e atua como um missionário para essa geração. Gosto muito dele. Vejo suas ministrações na internet e sou abençoado por elas. Mas nesse vídeo, ele faz uma afirmação equivocada sobre Jesus Cristo. Em suas palavras, 

“Você lê os evangelhos que falam de Jesus, você vai ver que as únicas pessoas que ele se dirigia com agressividade eram os religiosos da época.”

            Infelizmente essa é uma visão equivocada de Jesus Cristo. Jesus foi duro com todo tipo de gente. É bem verdade, e acho que é isso que o Rodolfo quis acentuar, com os doutores da lei, Jesus não aliviou em nada. Apenas com Nicodemus, em João 3, Jesus não foi duro na maneira de falar. Mas a conversa dEle com Nicodemus é sobre um assunto espinhoso, “Ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo” (v. 3). Pelo diálogo relatado por João não vemos Jesus com agressividade, mas uma conversa normal no meio da madrugada. Contudo, Jesus é duro com “as multidões” também. O mesmo discurso que Ele fazia contra os fariseus, ele fazia contra pessoas comuns.

            Em Mateus 12:34 e em 23:33, Jesus Se dirige aos fariseus da sua época chamando-os de “raça de víboras”. Não é uma maneira amistosa de se dirigir a um grupo de pessoas. É verdade. Contudo, coube a João Batista, Seu precursor, chamar as multidões que o ouviam de “raça de víboras” (Mateus 3:7; Lucas 3:7). Ao que lemos na Bíblia, Jesus não invalidou o discurso de João Batista, pelo contrário. Jesus o chamou de “o maior dos nascidos de mulher” (Mateus 11:11; Lucas 7:28).

            Além disso, Jesus não confiava nas multidões que o seguiam (João 2:23-24), porque conhecia o coração deles. Interessante João, o “discípulo do amor” registrar esse sentimento de Jesus pelas pessoas. Outro fato marcante no ministério de Jesus são as cidades de Tiro e Sidom. Quando Jesus visitou essas cidades, Ele não fez nenhum milagre nelas, mesmo sabendo que elas se arrependeriam com os milagres (Lucas 10:13). É difícil imaginar que Jesus tenha evitado o arrependimento das pessoas. Pelo menos para mim é difícil.

            Outra passagem famosa é quando Jesus expulsa os vendilhões do templo (João 2:13-16). Pelo que sabemos dos dados históricos, os vendedores não eram os fariseus e escribas. Estes, eram a elite religiosa da época. Os vendedores eram pessoas comuns, do dia a dia, do cotidiano. E Jesus não alivia em nada para eles. Além de ter batido neles, os expulsou, expulsou os animais e os produtos vendidos. É difícil imaginar que Jesus tenha falado de modo calmo nesse episódio. E se levarmos em conta que muitas famílias pobres viviam da venda desses produtos, fica ainda mais difícil imaginar que Jesus tenha sido suave com eles.

            É uma tentação considerar Jesus Cristo como manso e suave a todo instante. É difícil imaginar um salvador carrancudo, olhando feio e dando bronca. Mas Jesus não era assim sempre. Creio que as pessoas pensam assim de Jesus por outros motivos. Ninguém gosta de ganhar uma bronca, de ser repreendido, de não ser valorizado, e quando Deus faz isso, é difícil aceitar isso. Mas Jesus é Deus completo. Ele ama sempre e é sempre justo. Nele não há mancha de caráter. Ele é perfeito.

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