terça-feira, 15 de setembro de 2009

Suicídio - apenas uma reflexão!



Os assuntos abordados na Bioética são muito polêmicos. E são por dois motivos. Ou as pessoas entendem do assunto e querem expor suas idéias, ou as pessoas não entendem nada, fingem que têm alguma opinião e saem falando a quem quiser ouvir. Com relação ao suicídio acho que é isso que acontece. As pessoas só vão ter uma opinião realmente sólida depois de muita reflexão. E se tiverem a experiência de conhecer alguém que tentou o suicídio, ou que efetivamente se suicidou, as opiniões se fortalecem ainda mais. A Bíblia não trata especificamente da questão, mas podemos extrair algo de proveito para nós. Meu convite a você é que tenha calma e muito discernimento para o que vai ler a partir de agora.

Muitas pessoas encaram o suicida como uma pessoa que chegou ao limite da sanidade. Muitos não conseguem compreender como uma pessoa é capaz de cometer um ato desses. Muita gente sente medo de morrer e não consegue entender como alguém é capaz de provocar a própria morte. Para aqueles que são muito sensíveis a qualquer tipo de dor também é inconcebível que alguém consiga se suicidar. A liberdade na vida é uma busca quase que universal. Todos querem ser donos do próprio nariz. Na verdade, a busca de muitas pessoas é ter uma liberdade absoluta na vida. Muitos não se casam para não perderem a liberdade da vida de solteiro. Muitos casais escolhem livremente não ter filhos para se manterem exclusivamente um para o outro. O sentido de liberdade do ser humano é muito importante e exerce um verdadeiro fascínio. Quem não quer ser dono do próprio destino?

Isso pode ser percebido em algumas relações de pais e filhos. Muitos saem da casa dos pais para “alçarem vôos mais altos”, “para terem seu próprio canto”, “para terem a sua própria vida”. Nas salas de aula isso também é visto com nitidez: alunos que se rebelam contra as regras do colégio; alunos que deliberadamente não fazem as tarefas; respondem com o dedo em riste aos professores. Alguns empregados desejam firmemente serem donos de seu próprio negócio e não mais subordinados. Enfim, vemos as pessoas buscando exercer sua liberdade de todas as formas.

O suicídio é apenas uma dessas formas de exercer liberdade. Sem dúvida que se trata de um exercício da liberdade num grau muito elevado. Quem mais poderia legislar a meu favor se não eu mesmo? Inúmeras razões resultam no suicídio: depressão, desilusão amorosa, fracasso financeiro, uso abusivo de drogas. Não vou discutir essas razões de uma pessoa escolher se suicidar. Mas como cristão e biólogo, alguém que trabalha a favor da vida, não posso me furtar a tocar nessas questões. Será que algum cristão passaria por esses problemas destacados acima?

Tradicionalmente, a igreja (evangélica e romana) sempre condenou o suicídio como moralmente incorreto e o colocou na prateleira dos pecados imperdoáveis. Ora, se alguém comete o suicídio, como se arrependeria dele? Assim sendo, se fosse salvo, perderia sua salvação por não ter se arrependido. Esse argumento parece bastante lógico e ponderável. Mas imagine que uma pessoa tenha decidido se matar pulando do vigésimo andar de um prédio. Lá pelo décimo andar essa pessoa se arrepende de verdade e clama por perdão. Não há meios dela se salvar fisicamente, mas está arrependida do que cometeu e será salva? Seria válido tal arrependimento?

Isso mostra o caráter singular do suicídio e do arrependimento de pecados. Se eu for um assassino e me arrepender dos meus crimes, posso parar de cometê-los. Mas o suicida da história acima não terá essa chance. Mesmo tendo se arrependido não poderá mais exercer a liberdade que dizia desfrutar. Assim sendo, questiono: para onde essa pessoa vai depois do suicídio? Se a pessoa deve se arrepender de seus pecados para herdar a vida eterna, então a personagem dessa nossa história está salva. Mas deixe-me “pessoalizar” essa situação.

Imagine-se numa manhã, você, salvo pela graça de Deus, seja tradicional, carismático, neo-pentecostal ou qualquer outra linha teológica, depois de uma noite péssima por causa de um enjôo bem forte, dormiu pessimamente, sua cabeça dói, seu corpo inteiro dói, com esse estresse todo você saiu de casa e não orou. Normalmente você faz isso depois de acordar, ora agradecendo a noite de descanso, pede as bênçãos para um novo dia e pede perdão por seus pecados. Mas nessa manhã, cansado pelo desgaste da noite, você não orou. Ao atravessar a rua, você foi atropelado por um carro e acabou morrendo, sem ter tido a oportunidade de naquela manhã se arrepender dos seus pecados. Pergunto: para onde você vai? Céu ou inferno?

Para encerrar, quero te convidar a pensar no caso de Sansão. Você acha que ele cometeu suicídio? Você se lembra do que ele disse: “Morra eu com os filisteus.” (Juízes 16:30). Ele estava cego, entre duas colunas e disse que destruiria os filisteus. Minha pergunta é: o que Sansão fez para evitar a sua morte? Qual foi a atitude dele em tentar preservar a sua vida? Depois de ter empurrado as colunas ele não saiu correndo para se salvar. Respondendo as perguntas acima: entendo sim que Sansão não fez nada para se salvar e que, sim, cometeu suicídio.

Muitos me dirão que as intenções do coração de Sansão eram diferentes daquelas de um suicida desequilibrado, ou daqueles que enfrentam grande depressão e angústia. Sim, Sansão era um guerreiro e estava vingando o povo de Deus e destruindo um povo idólatra. O ato de Sansão foi um ato heróico, de muita bravura e de total rendição aos desígnios de Deus. Uma vez que ele se arrependeu do grande mal que provocou aos israelitas, agora ele tinha a oportunidade de vindicar a soberania de Deus.

A esses pergunto: não podemos pecar contra Deus apenas com nossos desejos também? Será que uma intenção boa e justificável aliviaria nosso pecado? No caso de Sansão, o que posso dizer, é que mesmo tendo pecado contra Deus se matando, ele está arrolado no rol dos “heróis da fé”, como é conhecido o capítulo 11 de Hebreus. Só Deus salva, só Deus condena. Só Deus pode dar vida, só Deus pode tirar a vida. A Ele, e somente a Ele, sempre e sempre, seja toda a glória.


3 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Marcos,

Você "matou" a questão. Não há na Escritura nenhum pecado que não seja perdoado, a não ser o cometido contra o Espirito Santo. Mas este, Deus não permitirá que os salvos o cometam, por que assim, seríamos reprovados. Logo, ao meu ver, tanto o suícidio como qualquer outro pecado foi pago na cruz por Cristo.

Há a vida de um poeta inglês do século XVIII, William Cowper, cristão calvinista, amigo do Rev. John Newton, que tentou suícidio por duas ou três vezes, se não me engano. Ele era tão atemorizado por seus pecados e iniquidades, que não se julgava digno da graça divina: tal como Paulo, se considerava o mais miserável dos pecadores.
Neste link, http://poesiaevanglica.blogspot.com/2008/02/um-poema-de-william-cowper.html é possível ler a tradução do poema que escreveu após a tentativa frustrada de suicidar-se (a tentativa frustrada não era nada mais do que a providência divina).

O caso de Sansão é o mais emblamático nas Escrituras, e muitos poderão dizer que não se trata de suícidio. Mas se não é suícidio (ainda que precedido pela vingança) como classificá-lo então? Sacrifício?

Graças a Deus que nos deu o Seu Filho, o qual lavou-nos, purificou-nos e santificou-nos no Seu precioso sangue derramado na cruz, e pelo qual estamos limpos, mais brancos do que a neve, seja ontem, hoje ou sempre. Apenas pelo Seu poder, graça e misericórdia.

Como você disse: "Só Deus salva, só Deus condena... e somente a Ele, sempre e sempre, seja toda a glória".

Amém!

Unknown disse...

Ola Marcos. Seguindo a linha do irmão Jorge Fernandes, ao meu ver, seu texto peca em atribuir a salvação ao perdão de nossos pecados. A ordem, em questão, esta errada amado. Nos somos salvos pela graça somente, e pela graça oferecida a nós, pelo sangue de Jesus Cristo nossos pecados são perdoados. Mesmo que eu acorde pela manhã, e não louve a Deus simplesmente pelo o que Ele é, jamais perderei a salvação. "Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora." João 6:37

Patricia Seabra disse...

Oi David!! É a paty Seabra, do Mackenzie, tudo bem?? Admirável o seu texto, digno de um reflexão!!!
Voltarei mais vezes para prestigiar o seu blog, ok? Sucesso pra vc. Beijos.

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