Quando eu era adolescente e comecei a entender as pregações nos cultos, havia pouca contextualização. O que isso significa? Pelo menos na igreja que passei a maior parte da minha vida, as pregações eram a compilação de alguns versículos com temas parecidos, uma pequena análise histórica daqueles textos e só. Não havia um aprofundamento nas questões que os versículos traziam.
A análise dos versículos não passava de superficialidades e ao contexto histórico em que o versículo estava inserido. Faltava uma aplicação prática à vida de cada crente. Não havia sequer a utilização de algum comentário, ou outro livro qualquer que pudesse ajudar o pregador a compreender melhor aquele texto. A literatura cristã ainda era muito incipente e a maioria dos livros era de testemunhos. Não havia à disposição livros doutrinários e expositivos.
Com o passar do tempo começaram a ser traduzidos livros expositivos, livros de sermões e livros que traziam uma análise mais aprofundada dos grandes temas da fé. E as pregações ganharam em qualidade. E muito. Havia mais riqueza, mais contextualização. A Bíblia "fazia mais sentido", porque, agora, eu percebia no meu dia a dia onde aplicá-la. Passei a aprender a entender a minha vida à luz da Bíblia. E o conhecimento nessa época explodiu nas igrejas. Eu perdia a conta de estudos bíblicos, livros e mais livros que usávamos na Escola Dominical. Foi uma época de muitos encontros e congressos, cheios de gente que queria estudar a Bíblia, conhecê-la e vivê-la.
Infelizmente hoje tem ocorrido uma situação estranha. Tenho visto vários livros publicados, de autores renomados no meio evangélico que têm se inspirado em outros autores que, há vinte anos atrás não apareciam na literatura evangélica. A fonte inspiradora desses autores evangélicos vai desde monges e freiras católicos até pensadores liberais dos seminários teológicos. E o que percebo é que pregadores de diferentes origens têm tido as mesma influências. Pentecostais, neo-pentecostais, batistas, evangélicos independentes, metodistas, presbiterianos têm usado autores e autoras católicos com muita desenvoltura.
E junto com esses católicos, os teólogos liberais estão sendo muito citados. Ainda que hajam diferenças entre os católicos, liberais e evangélicos, vejos esses últimos andando com os primeiros sem sentir nenhuma diferença. Apenas como exemplo vou usar Bultmann, um dos expoentes do liberalismo teológico e muito citado pelos pregadores. Para Bultmann a única informação histórica do Credo Apostólico é "[Jesus]padeceu sob Pôncio Pilatos." As outras declarações do Credo são invenções dos primeiros cristãos. Ora, como um autor desses pode ser usado como parâmetro nas pregações dos púlpitos evangélicos? A até autores, grandemente citados pelos pregadores atuais que consideram o Batismo e a Ceia dispensáveis!!! É incrível isso.
Diante disso, termino com algumas perguntas: onde vamos parar?, será mesmo que as nossas diferenças podem ser deixadas de lado?, será mesmo que a teologia evangélica não tem produzido conteúdo de qualidade?
Reflexões sobre música, ciência e teologia por um biólogo-teólogo-músico. Pelo menos da Biologia tenho o diploma.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Três afirmações de que Deus e evolução não podem estar juntos
Foi com vontade de conhecer como o mundo físico funciona e como Deus criou todas as coisas, especialmente os animais, é que...
-
Essa quem me contou foi o João Alexandre ( www.joaoalexandre.com.br ). O renomado Pr Russel Shedd foi questionado a respeito da salvação dos...
-
Essa é uma daquelas notícias que nos deixam boquiabertos. Hoje estava ouvindo a CBN e escutei essa notícia da excomunhão dos médicos e dos f...
8 comentários:
Marcos,
complicada essa questão abordada por você, mas que tem uma única origem, ao meu ver: a verdade deixou de sê-la em muitos corações e mentes para se tornar em muitas verdades; e a fé uma vez dada aos santos deixou de ter significado em suas vidas e, assim, busca-se um ponto comum entre as muitas religiões cristãs, e praticamente tudo, hoje em dia, pode ser identificado como proveniente de Deus, erroneamente.
Evidencia-se o desprezo pela Escritura, uma necessidade desesperada de se adaptar as doutrinas cristãs ao padrão do mundo atual; um diálogo em que o mal está sempre em vantagem. Por exemplo, se extraí quase tudo de um texto bíblico, menos a mensagem sobrenatural do Deus vivo. Há mensagens para todos, menos para o homem caído e necessidade de redenção, via de regra.
Eu mesmo li recentemente Agostinho e Étienne Gilson, ambos católicos, e vi muita coisa em seus livros que são negligenciadas em livros evangélicos. De certa forma, eles me pareceram mais crentes que muitos crentes. Com isso, não quero dizer que essa veia ecumênica que se irradia pelo universo "gospel" seja boa, pelo contrário, ela é péssima.
Digo sempre que a Bíblia é exclusivista e a mensagem de Deus também, mas há uma certa necessidade nos crentes atuais de se sentirem incluídos e participantes de outras cosmovisões, talvez porque naquelas o pecado não seja tão combatido como nas trincheiras ortodoxas, e seja até mesmo visto como uma "ficção" aos moldes do pensamento de Bultmann, Tillich e outros, essencialmente incrédulos e inimigos da fé bíblica.
Sei não, essa aproximação com o mundo traz sempre a cobiça de se ter o que ele tem, de se beneficiar dos seus aparentes benefícios, mas que como está escrito, somente traz morte e destruição.
Muito boa reflexão, meu irmão!
Grande abraço!
Cristo o abençoe!
Irmão,
muito oportuna a reflexão.
Os dias são maus, e passamos a nos estribar em nós mesmos para viver e acreditar.
Onde chegaremos? Na vinda do Senhor, pois apenas Ele encerrará a apostasia.
Em Cristo
Jorge, conversando essa semana com um irmão querido, ele chegou à conclusão que há budistas, por exemplo, que vivem de modo muito mais digno do que alguns cristãos e que, por causa disso, há algo no budismo que deveríamos aprender. Será mesmo que é assim? Será mesmo que temos algo a aprender fora da Bíblia em outras religiões?
Abraço, Marcos.
Paulo, eu fico realmente pensando se isso nos conduziria à apostasia. Será mesmo que o destino final nessa vida seria a apostasia?
Até mais, Marcos.
Marcos,
não defendi um e outro, nem Agostinho nem Gilson. Apenas quis mostrar que Deus usa até mesmo ímpios para proclamar uma verdade. A questão é que essa verdade não lhe servirá para nada, pois suas mentes não foram transformadas nem regeneradas.
No caso específico de católicos eles têm "parte" da verdade [se é possível ter parte dela], mas considero que até mesmo um réprobo poderá falar uma verdade, o que não quer dizer que me espelharei ou buscarei nele outras "verdades", porque seria o mesmo que retornar ao que fui, considerando possível achar ali algum benefício para a minha alma, quando não encontrei.
Infelizmente, o relativismo tem sido a tônica na igreja atualmente, e isso tem causado confusão, e a confusão não provém de Deus.
Abraços
Irmão,
as Escrituras garante-nos que vivemos dias de apostasia;
e mais, o Senhor é quem, ao instalar seu reino, nos trará a justiça. Logo, o que vemos hoje é rm punhado de pensadores livres adotando um punhado
de fragmentos de "verdades ocasionais" para formar o fundamento de conduta e fé.
Compartilho de seu saudosismo.
grande abraço
Se me permitirem, gostaria de entrar nesta roda de esclarecedores.
Marcos, meu sentimento é como o seu. Infelizmente as igrejas (locais), e não não todas, estão se conformando com o mundo.
Umas em suas práticas, a fim de conquistar espaço e adeptos. Outras em sua liturgia (se bem que alguns nem sabem o que 'liturgia' significa), trazendo para dentro do culto tudo o que eles acham que podem reforçar e acrescentar, aquilo que a Bíblia perdeu ao longo dos anos. Isso mesmo!
Muitos acreditam que a Bíblia só, não é mais suficiente. Daí, ser necessário teatro, dança, e tantas outras coisas que só tem a intenção de tocar nas emoções das pessoas.
Outro ponto ainda, é a ênfase no socialismo. É só ver os muitos apelos e frases de efeito de diversos "teólogos" modernos, por conta das tragédias causadas pela chuva.
Vejam, não estou dizendo que uma coisa ou outra é antibíblico, mas a substituição dos valores o é.
Eu não sou ecumênico de maneira nenhuma. Isso é uma aberração. Mas sem dúvida nenhuma esse é o resultado do liberalismo teológico instalado nas igrejas, que influenciam a praxis, as liturgias, e o foco no chamado da Igreja no mundo.
Sim, estamos vivento o tempo da apostasia. E neste caso, a apostasia que meu querido Paulo Brasil falou, é o desvio da verdade (estou certo?).
Também, creio não ser honesto de minha parte, para com meu Senhor Jesus, me alimentar dos pensamentos e dos ensinos de católicos, que apesar das semelhanças, a igreja católica não tem nada de cristã, visto que ela não é uma seguidora de Cristo. Mas creio que muitos dos que estão lá, poderão e irão ser alcançados pela graça de Deus. Como o foi Agostinho e Lutero.
Ora, não estou sendo radical, mas coerente. Pois, se sou capas de afirmar que a IURD, não é cristã,.tenho que afirmar que a igreja católica romana também não é! No mínimo, pseudo cristã.
Resumindo, creio firmemente, que as igrejas de hoje, já estão passando pela peneira (livre uso da imaginação), de Deus. A intensão? Ora, a Igreja de Cristo, militante, fiel, santa e verdadeira, está invisível e está sendo formada, a fim de terminar a obra de Cristo neste mundo.
É o que eu penso.
Um forte abraço a todos.
Postar um comentário