“E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito,” Efésios 5:18
Segundo o Dr Martin Lloyd-Jones, a expressão “enchei-vos” tem a noção de estar encharcado, igual a uma esponja.[1] Quando colocamos uma esponja em contato com a água, ela fica de tal modo cheia de água que não é preciso, se quer, apertá-la para a água sair. A ideia do apóstolo é que a completude do nosso ser seja preenchida pelo Espírito de Deus.
Paulo se utiliza de uma comparação muito interessante entre a vida controlada pelo pecado e a vida controlada pelo Espírito de Deus. O álcool tem um efeito depressor no cérebro. Isso significa que sua ação faz o sistema nervoso trabalhar de modo mais lento, mais letárgico. Diversas áreas do cérebro são afetadas pelo álcool, por exemplo, aquelas responsáveis pelo movimento, memória, julgamento, respiração, etc. “Em pequenas doses, a substância tem um efeito estimulante. A pessoa fica eufórica e, geralmente, menos inibida”, afirma Denise De Michelis, psicobióloga da Unifesp. Quando a bebida alcança o lobo frontal, surge a sensação de alegria. O sujeito fica mais falante, ainda sem prejuízo do raciocínio. Ao atingir os lobos parietal e temporal, começam os problemas. O sujeito pode cometer um desatino, como cruzar um sinal vermelho.
Esse é o problema: os efeitos imediatos do álcool são a alteração do comportamento de tal maneira que a pessoa passa a não se controlar mais; perde-se a noção do certo e do errado e a pessoa torna-se “corajosa” para tomar certas atitudes que não tomaria em sã consciência. Essas atitudes podem ser desde a pessoa falar coisas que não falaria em outras circunstâncias, até tirar a vida de outra pessoa. Em reportagem, o jornal O Globo relatou que a violência em São Paulo está diretamente relacionada com o uso de bebidas alcoólicas e o porte de arma de fogo. Nada menos do que 40% das vítimas de homicídio doloso têm álcool no sangue e a criminalidade aumenta à noite e nos fins de semana.[2] É bem capaz que o apóstolo Paulo tivesse conhecimento de vários fatos provocados pelo abuso do álcool.
É muito interessante essa comparação, pois a pessoa bêbada não tem controle sobre seu corpo: não é possível andar em linha reta, articular os pensamentos, falar de modo inteligível e, mais terrível ainda, a pessoa bêbada não é capaz de medir as consequências dos seus próprios atos e, simplesmente, age de modo inconsciente. O segundo aspecto dessa comparação é que o abuso do álcool traz contenda. Essa palavra significa disputa, briga, discórdia, luta. Porém, no original grego, a palavra tem a ideia de desperdício e devassidão. É a mesma palavra utilizada por Jesus para descrever o modo de vida que o filho pródigo teve longe da presença de seu pai – luxúria, libertinagem, vida desenfreada, dissolução, lascívia.
Resumindo, o apóstolo Paulo está comparando um estilo de vida controlado pela devassidão, pela discórdia, pelas disputas com um estilo de vida que é controlado pelo Espírito Santo. E, depois de estabelecer essa comparação, o apóstolo passa a explicar como podemos nos encher do Espírito. Nos versículos 19 a 21, vemos que a maneira de nos enchermos do Espírito Santo é vivermos comunitariamente. Ninguém se enche do Espírito Santo sozinho, isolado, separado da comunidade de Jesus.
Encher-se do Espírito é uma experiência comunitária de relacionamento, de doação, de serviço mútuo, de ensino e aprendizagem “uns com os outros”. Em Atos, Lucas descreve que “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum (...) perseverando unânimes todos os dias no templo (...) louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo e perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (Atos 2:42-47).
E Lucas, como médico que era, via os benefícios que essa comunhão provocava na vida das pessoas. No versículo 46, ele relata que o coração estava cheio de “alegria e singeleza”. Na Bíblia, o coração é mais do que um órgão. Ele é tratado como a sede do intelecto (Gênesis 6:5), dos sentimentos (1 Samuel 1:8) e da vontade (Salmo 119:2). A vida comunitária abençoa a vida em todas as suas dimensões. O intelecto trata da nossa sanidade mental, do discernimento das nossas ações e decisões que temos de tomar. A comunhão dos santos pode nos prevenir de sentimentos de ira, raiva, rancor, tristeza. Além disso, quando nossa vida está pautada na comunhão “uns com os outros”, eu tenho com quem me aconselhar, com quem dividir meus pensamentos e nunca estarei só.
Mas voltando para a comunhão entre os irmãos, o salmista também reconheceu algo muito importante: é na comunhão dos santos que o Senhor ordena a Sua bênção (Salmo 133:3). Não pode haver afirmação mais clara. Por que muitas vezes deixamos de ter a bênção de Deus? É porque estamos afastados da comunhão uns dos outros. E as bênçãos que deixamos de desfrutar são matérias e espirituais. Lucas relata que na Igreja Primitiva, os irmãos eram assistidos nas suas necessidades (Atos 2:45) e, além disso, a comunhão nos enche de bênçãos espirituais:
· o Senhor garante a Sua presença (Mal. 3:16; Mateus 18:20);
· oração em favor mútuo (2 Cor. 1:11; Efésios 6:18);
· exortação (Col. 3:16; Hebreus 10:25);
· consolo e edificação (1 Tess. 4:18; 5:11);
· simpatia e bondade mútuas (Romanos 12:15; Efésios 4:32)
Queridos irmãos, é tempo de nos encher da presença do Espírito Santo de Deus. É tempo de buscarmos a Deus enquanto podemos achá-lo (Isaías 55:6). O profeta adverte para o fato de Deus estar perto. Mas Deus está perto como? Onde? Ele está perto porque está representado na vida dos nossos irmãos. A nossa vida e comunhão deve espelhar o ser de Deus, a Sua essência, as Suas características.
A nossa vida tem que estar tão cheia de Jesus que não precisamos fazer força a vida dEle se manifestar em nós. Igual a uma esponja encharcada que transborda de água sem esforço algum. Como Paulo nos ensina em Gálatas 2:20, a vida que temos agora é a própria vida de Cristo em nós. E ainda mais: uma esponja transborda de água em qualquer parte dela. Isso deve nos fazer refletir para o fato que em qualquer área da nossa vida temos que transbordar da vida do Espírito de Deus. Seja no trabalho, na família, no casamento, nos relacionamentos dos mais diversos níveis, temos que ser reconhecidos como filhos de luz (Efésios 5:8).
Um comentário:
Bom Marcão, concordo com você em tudo que você disse, mas só uma ressalva, é fato que temos que ter comunhão com os irmãos, mas como o Gerson pregou no último domingo sobre Hebreus 12:1-3, aquilo ficou em minha cabeça, principalmente sobre o versiculo 1 " livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve", mais claro impossível, porque as vezes, mesmo em uma igreja, há pessoas que atrasam nossa vida, dizem que são santos e tal..........por isso mais do que estar em comunhão, deve-se estar em comunhão com gente que realmente segue, vive e leva a sério a Graça de Cristo e sua crucificação por nós, porque se não tiver, nada feito.
Parabéns pelo texto e obrigado por seguir meu blog também.
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