Sr
Malafaia, antes do senhor ter a sua empresa, Central Gospel, o senhor não
falava de dinheiro como fala hoje. Se o senhor não quer reconhecer a mudança no
discurso, fique à vontade. Sua cegueira para essa realidade não muda os fatos e
os vídeos de antes e depois. Embora não concordasse com tudo que o senhor
pregava, ainda tinha um certo gosto em ouvi-lo. Hoje em dia só o faço quando me
sinto – ou sou – obrigado a fazê-lo.
O senhor
tem pedido nos últimos dias, já pela segunda vez, que alguém se coloque e
aponte os erros na sua pregação sobre prosperidade financeira. Ora, se Jesus
Cristo, a quem o senhor chama de Mestre, não demonstrou nenhuma prosperidade
financeira, que é o senhor ou eu, para almejar esse tipo de prosperidade nessa
vida! Não é uma questão de ser miserável. Miseráveis nós dois somos desde que
nascemos – acho que não preciso lhe explicar o significado da palavra misericórdia! Portanto, não vou perder
meu tempo com esse assunto.
A Reforma
Protestante lançou cinco pilares que deveriam servir de base para a teologia de
qualquer cristão que se diz fruto daquele movimento. Movimento esse que teve
impactos em todas as dimensões da vida humana, não apenas na religiosa. Foi
aquele ato de Martinho Lutero, e o que se sucedeu depois dele, que diferenciou
a verdadeira cristandade daquilo que era falso e mentiroso, ainda que estivesse
sendo aceito por todos. Assim, se o senhor se diz herdeiro da Reforma
Protestante, deveria esposas aqueles pilares. Mas a minha firme convicção é que
o senhor está para os pilares da Reforma Protestante, do mesmo jeito que a água
está para o óleo.
Os pilares
da Reforma Protestante são Somente a Fé,
Somente a Graça, Somente Cristo, Somente a Escritura e Somente
Glória a Deus. Tudo o que Martinho Lutero e João Calvino ensinaram (apenas
para ficar nos dois mais conhecidos de todos – espero que como estudioso o
senhor conheça outros nomes) estava pautado nesses pilares. De maneira que
aqueles que se afastam deles, não têm o direito de se dizerem herdeiros da
Reforma. Do mesmo jeito que o senhor acha que o Pr Paulo Brasil não pode falar
sobre os pentecostais, o senhor também não pode falar dos reformados.
Parafraseando o ditado popular: “pau que
bate em Silas, também bate em Paulo”.
Somente a Fé: a fé requerida para que o
homem seja salvo é de uma natureza diferente daquela confiança que alguém pode
ter na força do seu trabalho, ou a confiança no amor do cônjuge, ou a confiança
de um filho em seu pai. Para ser declarado justo e sem culpa diante de Deus, o
homem não tem nada a oferecer em seu resgate. Se ele não confiar que o que
Jesus Cristo é suficiente para garantir-lhe a salvação, ele estará eternamente longe
da salvação. E essa fé, salvífica, não nasce no coração humano espontaneamente;
não nasceu com ele biologicamente. Essa fé salvífica é dada por Deus e somente
por Ele o que torna o homem incapaz de voltar-se a Jesus espontaneamente.
Somente a Graça: o homem é salvo por um
favor de Deus que é difícil do homem compreender. Somos rápidos em favorecer
quem nos favoreceu antes ou quem poderá nos favorecer no futuro. Nós, humanos
pecadores, trabalhamos com a meritocracia, com o merecimento e Deus não conhece
a meritocracia. Ele não faz acepção de pessoas, pois para fazê-la Deus deveria
achar algo em alguém que fosse digno de recompensa. Ele jamais recompensaria a
fé de alguém com a salvação. Primeiro porque a fé que temos é dom de Deus e,
segundo, que a salvação que temos também recebemos dEle sem a merecê-la.
Pelo que
sei e vejo, sr Malafaia, o senhor acredita que o homem já nasce com uma fé que
pode ser exercida na direção de Deus. E o que é pior, a salvação que o senhor
prega é meritória e não pela graça. Se o senhor disser que para ser salvo o
homem precisa aceitar a Jesus como seu
salvador, significa que, por ter aceito a Jesus este homem agora está
salvo. Por acaso, quando o senhor agradece a salvação que tem, agradece a Deus
por tê-lo salvo a si mesmo por tê-lO aceito em sua vida? Que poder o senhor tem
para aceitar ou rejeitar a Deus sendo que Ele não lhe fez nenhum mal para ser
aceito?
Somente Cristo: talvez o senhor
concorde, a princípio, com o fato de que entre Deus e nós, somente Jesus Cristo
é o mediador. Não existe nenhum ser criado que possa intermediar a nossa
relação com o Pai, senão o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo. Mas essa sua
crença é negada toda vez que o senhor apela para o ser humano que se salve.
Ora, se o senhor crê – e sempre o vejo fazer – que o homem é capaz de voltar-se
para Deus livre e espontaneamente, qual é a necessidade de Jesus Cristo. Se
para ser salvo o homem tem que exercer o seu (falso) livre-arbítrio para
decidir-se por Jesus Cristo, por que então o senhor não exerce o seu próprio
livre-arbítrio e decide parar de pecar contra Deus? Já que o homem é livre e
tem liberdade na sua vontade, por que então Jesus disse que tinha vindo para “libertar
os cativos”? De que cativeiro o homem precisa ser liberto se ele tem
livre-arbítrio?
Somente a Escritura: Deus está
revelando novas coisas aos homens? Deus está trazendo algo de novo além do que
Ele já revelou aos autores do texto bíblico? O que está sendo pregado nos
púlpitos das igrejas cristãs que já não tenha sido colocado de forma escrita
por aqueles homens inspirados por Deus? O que é que Deus tem ainda para nos
falar que não tenha falado pelos profetas e que hoje nos fala através de Seu
Filho? Que melhor é esse que o senhor sempre diz que Deus tem para nos dar? Tem
algo melhor do que Jesus Cristo e Sua Palavra da parte de Deus para nós? Pelo
que já ouvi e vi o senhor falar, suas repostas negam as perguntas que fiz
acima. Se não, não haveria razão de o senhor, em suas pregações, dizer que é “profeta”
para a vida de seus ouvintes!
Somente Glória a Deus: se o senhor crê
que para ser salvo não basta o sangue de Jesus Cristo, mas o homem precisa aceitar a Jesus, há uma parcela
da salvação que pertence ao homem e, portanto, Deus não pode ser glorificado de
modo exclusivo. Se o senhor crê – e sua fala demonstra isso – que o homem tem
uma mínima parcela de participação na sua salvação, então o senhor não glorifica
a Deus com exclusividade. A obra de salvação na vida do homem é monergística e
não sinergística. Nem eu nem o senhor temos condições de contribuir para a
nossa salvação. Não somos capazes de contribuir em nada para aquilo a que Jesus
Cristo fez. Nossa salvação é, do começo ao fim, obra de Deus, somente Dele,
somente por Ele e somente para Ele.
Assim,
conclui-se que o senhor não tem relação com a Reforma Protestante e não deveria
se chamar “protestante”. Esbraveja e grita contra cristãos reformados, mas numa
jogada de marketing, para vender mais,
utiliza os 500 anos da Reforma para lançar uma obra sobre a história da Igreja.
Isso é ridículo. O senhor não crê no que os reformadores pregaram, ensinaram e
escreveram. O senhor não lê autores reformados e se utiliza desse expediente
para lucrar. Repito: isso é ridículo!
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