Logo
que os últimos acontecimentos ficaram conhecidos, muita gente, nas
redes sociais, saiu em defesa dos animais e outro tanto de gente saiu em
defesa das pesquisas. Vimos mais uma vez nesse país, ações violentas e
agressivas por parte de gente ativa na defesa dos animais. O caso da
Royal é apenas mais um em que os manifestantes querem resolver o assunto
na porrada. Parece-me que isso está virando moda no Brasil.
Infelizmente.
Essa
agressividade parece ter invadido também o campo das ideias. Os
ativistas defenderam seus pontos de vista com bastante veemência e
algumas conversas que participei, o tom era sempre o mesmo: cancelamento
total e imediato de todas as pesquisas que usam animais. Mas pensar
dessa maneira é animalesco, uma vez que não há medida das consequências
de um ato com esse.
A
pergunta que sempre faço - e ainda não consegui obter nenhuma resposta
inteligente é o que os ativistas fazem quando precisam de analgesia para
alguma dor. Será que passear com os animais de estimação causa
analgesia? Alguma mulher ativista, em TPM, resolve não tomar nenhum tipo
de remédio? Ativistas acometidos de câncer, fazem o quê, só brincam com
os animais? Quando somos contra alguma coisa de modo indiscriminado,
podemos exagerar nas nossas avaliações e "jogar fora a água da banheira
junto com o bebê".
Do
ponto de vista evolutivo, não existem privilégios para a espécie
humana, mesmo que essa seja considerada a mais inteligente. Mas é
inegável que existe uma dignidade (não sei se é essa a palavra!)
diferente entre humanos e animais não humanos. Não consigo entender como
o mesmo direito dos animais se aplicaria a pessoas "menores" e
"interditados". O Direito não olha para os humanos do mesmo jeito que
olha para os outros animais. A Psicologia também, apesar de crescer mais
e mais o número de psicólogos especializados em animais não humanos.
E
se considerarmos a religião, vemos a mesma coisa. A própria Torá, nos
mostra que Deus estabeleceu uma diferença entre nós e os outros animais,
fazendo-nos à Sua "imagem e semelhança" e Se relacionando conosco de
uma forma diferente de como Se relaciona com as demais criaturas. Aos
humanos, Deus deu a ordem de dominar sobre os animais de todas as
espécies e de cuidar do Jardim do Éden. Isso não significa que Deus
autorizou o homem a ser um déspota sanguinário e inconsequente no trato
com os animais.
Qual é a ética entre os animais não humanos? Existe moralidade entre eles? Qual é o ethos
que rege a convivência dos animais não humanos? Se estudarmos o
comportamento, por exemplo, de chimpanzés, veremos muita semelhança
comportamental. E até há quem extrapole essas semelhanças para emoções e
questões sociais. Uma vez que seja questionável o aspecto moral nos
animais não humanos, entre nós, essa questão está bem estabelecida.
Somente agora especialistas em comportamento de primatas, por exemplo,
têm desvendado comportamentos dos macacos parecidos com o nosso. Darwin
talvez dissesse que é o nosso comportamento que se parece com o deles.
Os
direitos dos animais são respeitados por todos os comitês de ética das
universidades em que são feitas pesquisas com uso deles. Inclusive os
comitês de ética são bem rigorosos nesses acompanhamentos, muitas vezes
vetando algum tipo de pesquisa que não esteja de acordo. O CONCEA existe
justamente para essa finalidade. Na minha experiência pessoal, na
graduação e depois de formado, vi muitos casos que projetos de pesquisa
foram revistos por causa dos comitês de ética das universidades.
Outro
problema que vejo é a falta de alternativas. Quais são as alternativas
apresentadas pelos ativistas da causa dos animais. O discurso que mais
aparece para os cientistas pode ser resumido na seguinte frase:
"Virem-se. Não queremos o uso de animais, então desenvolvam outras
técnicas." Isso é muito fácil falar. Mas quando inúmeros estudos sérios
já estão em andamento, não é possível simplesmente parar anos de estudos
para achar novas técnicas. Por que os ativistas não se debruçam sobre a
bancada nos laboratórios e criam essas novas técnicas?
Portanto,
há que se ter muito equilíbrio quando discutimos essas questões. Não
podemos forçar os argumentos para nenhum dos lados. Ninguém, em sã
consciência, é favor que a vida seja maltrada, seja a vida humana ou dos
outros animais. Ninguém usaria animais de estimação para pesquisas
científicas. Mas existem animais que por anos têm sido usados nas
pesquisas com resultados benéficos para a saúde humanos. Temos muitos
exemplos: insulina para uso humano, remédios para câncer, analgésicos
entre muitos outros casos.
Se
os direitos são iguais entre seres humanos e não humanos, por que os
deveres não deveriam ser iguais também? Que os animais não humanos
tarabalhem e ganhem o seu próprio sustento. Quando um animal carnívoro,
como os cachorros, são alimentados com vegetais por seus donos, eles
deveriam protestar na Avenida Paulista às 18 horas por melhores
condições de alimentação.
Afinal de contas, você é um homem ou um rato?
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