Eu sei
que tem uma parte da igreja evangélica brasileira que não gosta de estudar a
Bíblia. Essas pessoas ficam só na leitura, muitas vezes, superficial e não
querem saber de se aprofundar nos assuntos. Muitas não gostam de ler. O
problema é que não gostam de ler nada – livros, revistas, jornais e nem o
manual do carro que compram! O problema que vejo nisso é que ou a pessoa está
errada ou Deus está errado. Bem, se Deus escolheu Se comunicar conosco através
de um livro que precisa ser lido e a pessoa que se diz cristã não gosta de ler,
temos um problema.
Contudo,
não somente ler a Bíblia, mas é preciso que ela seja compreendida e aplicada à
vida. Em seu mais recente livro, Luiz Sayão dá um diagnóstico preciso dessa
situação: “...muita gente toma decisões teológicas por reação emocional e não
por consciência e aprofundamento...”. E tem algo pior. Na visão de Sayão, os
pastores também não sabem o que pensam, “...cresce o número de pastores que só é contra alguma coisa, sem saber o que ele mesmo é” (p.18, grifos do
autor – Agora sim!: teologia na prática
do começo ao fim, São Paulo: Hagnos, 2012).
O
problema em não ler a Bíblia se divide em duas partes. Acredito que uma face do
problema é não saber, não conhecer o que a Bíblia diz. A Bíblia ensina
coisas práticas sobre casamento, educação de filhos, relacionamento familiar,
relacionamento entre empregado e empregador, cuidado com as finanças, respeito
às autoridades políticas, relacionamento do cidadão com o Estado, entre outros
temas. Veja você que, apesar de corriqueiros, esses assuntos são a base da
nossa vida. Apesar de lidarmos com essas questões todos os dias, temos vários
problemas em todas essas áreas que poderiam ser evitados se seguíssemos os
princípios bíblicos.
A
segunda parte desse problema é dizer o que a Bíblia não diz. Um caso
extremado dessa situação é o de uma artista brasileira muito famosa na década
de 1980 que se diz (ou dizia) evangélica. Ela foi casada muitas vezes, estrelou
filme pornográfico e, vez ou outra, é chamada para participar de programas
televisivos para dar sua opinião sobre assuntos bíblicos. Leia uma de suas
afirmações: “Venha a mim do jeito que você está e eu farei a obra” (se tiver
coragem, veja aqui).
E esse é um problema sério, pois quem prega, ou quem ensina a Bíblia, se tiver
uma postura dessas, vai ensinar qualquer outra coisa, exceto a Bíblia.
A
maneira como Jesus lidava com as pessoas é um prato cheio para esse erro tipo dizer o que a Bíblia não diz. Esta semana,
a TVUOL publicou um vídeo com depoimentos de três cantores evangélicos, Thalles,
Rodolfo Abrantes e Pregador Luo. O título do vídeo é Religiosidade atrapalha o gospel. Nele, os entrevistados dão sua
opinião sobre a relação que têm com a religião e com a prática religiosa.
Thalles disse:
“Jesus
era um cara suave. Jesus andava no meio do povo, andava no meio dos pobres,
alimentava as multidões com pão, peixe. E se tivesse pouco pão, pouco peixe ele
multiplicava pra alegrar todo mundo. Depois, todo mundo tava alimentado, ele
trocava uma ideia e falava por parábolas, contando historinha pra ficar mais
suave, pra galera entender, fazendo as coisas paulatinamente.”
Jesus multiplicou pães e peixes duas vezes nos Evangelhos.Uma
das vezes, usando cinco pães e dois peixes (Mateus 14:13-21; Marcos 6:31-44;
Lucas 9:10-17; João 6:5-15). Em outra ocasião, Ele multiplicou “sete pães e
alguns peixes” (Marcos 8:1-9; Mateus 15:32-39). Pelo que se lê nos Evangelhos,
essas multiplicações não eram corriqueiras, mas fatos excepcionais do Seu
poder. Além disso, contar parábolas não tinha a intenção de aliviar os fatos. O
próprio Jesus explica porque falava em parábolas e, pela fala de Jesus, a
intenção não era suavizar nada:
“Os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram: Por que falas ao
povo por parábolas? Ele respondeu: A vocês foi dado o conhecimento dos
mistérios do Reino dos céus, mas a eles não. A quem tem será dado, e este terá
em grande quantidade. De quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Por essa
razão eu lhes falo por parábolas: Porque vendo, eles não veem e,
ouvindo, não ouvem nem entendem.” (Mateus 13:10-13)
Jesus
falava por parábolas para que algumas pessoas não entendessem o que era dito.
Entender suas palavras era para um grupo restrito de pessoas, não para todos.
Aos outros, a visão e os ouvidos ficavam tapados justamente pelo uso das parábolas.
Isso não significa que Jesus falava sempre por parábolas. Elas tinham uma
função específica e didática no ministério de Jesus. E parece que o Thalles se
esqueceu disso (ou não sabe disso).
Outra
afirmação é a do cantor Rodolfo. Ele teve uma conversão radical e verdadeira,
abandonou a vida que tinha antes de Cristo e atua como um missionário para essa
geração. Gosto muito dele. Vejo suas ministrações na internet e sou abençoado
por elas. Mas nesse vídeo, ele faz uma afirmação equivocada sobre Jesus Cristo.
Em suas palavras,
“Você
lê os evangelhos que falam de Jesus, você vai ver que as únicas pessoas que ele
se dirigia com agressividade eram os religiosos da época.”
Infelizmente
essa é uma visão equivocada de Jesus Cristo. Jesus foi duro com todo tipo de
gente. É bem verdade, e acho que é isso que o Rodolfo quis acentuar, com os
doutores da lei, Jesus não aliviou em nada. Apenas com Nicodemus, em João 3,
Jesus não foi duro na maneira de falar. Mas a conversa dEle com Nicodemus é
sobre um assunto espinhoso, “Ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de
novo” (v. 3). Pelo diálogo relatado por João não vemos Jesus com agressividade,
mas uma conversa normal no meio da madrugada. Contudo, Jesus é duro com “as
multidões” também. O mesmo discurso que Ele fazia contra os fariseus, ele fazia
contra pessoas comuns.
Em
Mateus 12:34 e em 23:33, Jesus Se dirige aos fariseus da sua época chamando-os
de “raça de víboras”. Não é uma maneira amistosa de se dirigir a um grupo de
pessoas. É verdade. Contudo, coube a João Batista, Seu precursor, chamar as
multidões que o ouviam de “raça de víboras” (Mateus 3:7; Lucas 3:7). Ao que
lemos na Bíblia, Jesus não invalidou o discurso de João Batista, pelo
contrário. Jesus o chamou de “o maior dos nascidos de mulher” (Mateus 11:11;
Lucas 7:28).
Além
disso, Jesus não confiava nas multidões que o seguiam (João 2:23-24), porque
conhecia o coração deles. Interessante João, o “discípulo do amor” registrar
esse sentimento de Jesus pelas pessoas. Outro fato marcante no ministério de
Jesus são as cidades de Tiro e Sidom. Quando Jesus visitou essas cidades, Ele
não fez nenhum milagre nelas, mesmo sabendo que elas se arrependeriam com os
milagres (Lucas 10:13). É difícil imaginar que Jesus tenha evitado o arrependimento
das pessoas. Pelo menos para mim é difícil.
Outra
passagem famosa é quando Jesus expulsa os vendilhões do templo (João 2:13-16).
Pelo que sabemos dos dados históricos, os vendedores não eram os fariseus e
escribas. Estes, eram a elite religiosa da época. Os vendedores eram pessoas
comuns, do dia a dia, do cotidiano. E Jesus não alivia em nada para eles. Além
de ter batido neles, os expulsou, expulsou os animais e os produtos vendidos. É
difícil imaginar que Jesus tenha falado de modo calmo nesse episódio. E se
levarmos em conta que muitas famílias pobres viviam da venda desses produtos,
fica ainda mais difícil imaginar que Jesus tenha sido suave com eles.
É uma
tentação considerar Jesus Cristo como manso e suave a todo instante. É difícil
imaginar um salvador carrancudo, olhando feio e dando bronca. Mas Jesus não era
assim sempre. Creio que as pessoas pensam assim de Jesus por outros motivos.
Ninguém gosta de ganhar uma bronca, de ser repreendido, de não ser valorizado,
e quando Deus faz isso, é difícil aceitar isso. Mas Jesus é Deus completo. Ele
ama sempre e é sempre justo. Nele não há mancha de caráter. Ele é perfeito.
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